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#Crítica: versões, personalidades e machismo do #TheCircle

Se você ama Netflix e reality show como eu, deve estar bem contente com os últimos lançamentos. Sim, os realities chegaram em peso nessa plataforma de streaming - e o melhor é que não precisamos esperar uma semana para o próximo episódio. Hoje, especificamente, vamos falar de The Circle, um dos mais novos realities lançados pela Netflix e que veio com três versões diferentes: a estadunidense, a brasileira e a francesa. #SeLiga.



Como funciona o The Circle?

Em uma mistura de Big Brother e Catfish, os jogadores se mudam para apartamentos (bem moderninhos e personalizados) em um mesmo prédio e devem conquistar sua popularidade para continuar no jogo. Só que eles não podem se encontrar pessoalmente, a interação é toda feita pelos perfis criados no Circle. A premissa básica é de que “qualquer um pode ser alguém no The Circle” e os competidores podem escolher como querem participar: sendo eles mesmos ou criando um perfil fake.

Prédio utilizado para as gravações de The Circle fica em Manchester, Inglaterra. Foto: Divulgação

De tempos em tempos os jogadores devem classificar uns aos outros, gerando um ranking final com a média das classificações. Apesar de às vezes as regras mudarem, geralmente os dois primeiros se tornam “influenciadores” e ganham o poder de bloquear (eliminar) alguém do Circle. E aí, como em todo reality, alianças são formadas, azaração rola solta e surgem mocinhos e vilões. ALERTA: A PARTIR DE AGORA TEMOS SPOILERS (mas prometo não dizer quem ganhou).


Bem, a versão estadunidense foi a primeira a ser lançada e, arrisco dizer, a mais fraca. Apesar de interessante, os personagens não são cativantes. Eu pessoalmente só comecei a torcer por alguém lá pela metade - e mesmo assim não me apeguei. Shubham foi um que comecei gostando mas logo já não aguentava mais. Toda a ingenuidade e cega parceria com Rebecca (Seaburn) e Joey me irritava. Também não conseguia entender a relação Rebecca-Sammie: numa hora se gostavam, na outra trocavam farpas e não ficava explícito quando faziam as pazes. Fora todo o arco de Chris, um personagem que tinha tudo para se tornar o centro das atenções, mas nunca conseguiu - talvez pelas alianças do quarteto Shubham, Joey, Rebecca e Sammie.


Acredito que o trabalho de casting e montagem possam ter grande parcela de culpa. Conseguimos ver o potencial de cada um, mas poucos são os que se complementam e conseguem destacar o melhor um do outro. E sobre a montagem, descobri depois que as conversas eram maiores e mais frequentes entre os participantes, o que pode explicar as lacunas que senti falta. Não ficava claro quando as pazes eram feitas e as alianças firmadas. E ainda não sei o que achei de quem ganhou. Dentre os finalistas, aceitei.

Participantes do The Circle EUA reunidos na final. Foto: Reprodução

O melhor do Brasil é o brasileiro e The Circle Brasil prova isso. Os personagens são incríveis, atiçam nossa atenção e curiosidade do primeiro ao último episódio. A gente gosta, pega ranço, torce para ficar, fica indignado quando vê sair ou em risco de ser bloqueado. Até torci pra fake! Luma foi uma participação incrível e nunca duvidaram de sua identidade, até porque sempre foi coerente em seu jogo. Julia (ou Rob) foi uma participação curiosa. Até mesmo Akel, que me irritava no início, me fez ficar com medo de vê-lo saindo do jogo. #NossaSenhoraDaAbadia.


Para mim, a relação mocinha-vilão da edição tinha ficado claro para todos. Lorayne fez amizades logo no início, mas nas primeiras oportunidades foi deixada de lado pela manipulação de JP e Ray - inclusive, falamos mais disso depois. Só que não sei se ficou tão claro assim, já que JP é o mais seguido hoje nas redes sociais. É um dos efeitos de realities, né? Por mais que alguém não tenha um jogo legal, ao sair ele pode ganhar até mais popularidade. Ou eu vi o jogo de maneira diferente. Não sei.

Participantes do The Circle Brasil. Foto: Divulgação

Bem, é isso. Os franceses honraram o estereótipo e se mostraram mais barraqueiros que os brasileiros. Para mim, foi a melhor versão de The Circle, sem dúvidas. As personalidades são conflitantes da melhor maneira, tem intriga em todo episódio e você acaba nem se incomodando com o fato dos fakes serem fakes, já que até esquece disso em meio a tanta treta! Logo na primeira eliminação já percebemos a diferença dos demais. Enquanto no estadunidense e no brasileiro os eliminados iam amigáveis ao encontro com os jogadores, no francês a primeira eliminada já chega querendo tirar satisfação. Lou, #jetaime!


É a versão com mais fakes, só que, como falei, isso não é o responsável pela nossa torcida contra. A aliança do #TeamWinner com Eléa, Valeria e Romain logo desagrada os demais participantes e alimenta intriga em todos os episódios. Gabriel (ou Rudy) e Nicolas (ou Jo e Monique) foram a dose cômica que as demais edições tanto precisavam. E queria destacar os mais barraqueiros, mas não consigo, então parabéns a todos - jogadores e produção do The Circle França!


The Circle França teve intriga do início ao fim. Foto: Reprodução

Não posso deixar de problematizar também. Eu sei que estamos um pouco saturados de trazer grandes problematizações para o entretenimento, mas realities acabam sendo uma microrreprodução da nossa sociedade. Então, se somos machistas, lá isso também reina. E é (MUITO) curioso o fato de que as primeiras pessoas bloqueadas das três versões foram mulheres modelos bem confiantes de si. As justificativas foram de “é muito bonita para ser verdade” por parte dos homens até “é uma concorrência grande” por parte das mulheres. Não tem nem o que falar, né?


Outra coisa que me doeu - e me fez ter torcida e ranço instantâneos - foi o fato de que nas edições brasileira e francesa um homem mentiu sobre uma mulher e conseguiu fazer com que outros ficassem contra ela. No Brasil, JP não se esforçou para salvar o amigo do grupo #Camisa10 e deixou Lorayne levar a culpa do bloqueio (que foi decisão mútua). No dia seguinte, saiu falando para todos que a decisão foi só dela e conseguiu o que queria: todos contra Lorayne. No França, Cédric mentiu ao dizer que a mensagem de Lou era sobre Eléa e deixou Ines e Gary com ódio mortal da mesma. Por que a palavra deles valia mais que a delas? Até quando homens vão caluniar mulheres sem serem sequer questionados?

Lorayne foi bloqueada no The Circle Brasil em parte por culpa de JP. Foto: Divulgação

Bem, de maneira geral, The Circle é um reality muito inteligente e criativo. As três edições valem o tempo de serem vistas e instigam os amantes de realities shows, ainda mais agora que estamos prestes a ficar órfãos do maior reality brasileiro. Todas as três versões estão disponíveis completas na Netflix.


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