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"Todo Dia a Mesma Noite": o drama da Boate Kiss e polêmicas da vida real

A Netflix lançou sua nova minissérie "Todo Dia a Mesma Noite", na última quarta-feira (25). A produção fala sobre uma das maiores tragédias da história do Brasil, o incêndio na Boate Kiss, que completou 10 aos em 27 de janeiro. A boate em Santa Maria, no Rio Grande do Sul, pegou fogo, ferindo e envenenando os jovens presentes. 242 morreram e mais de 600 ficaram feridos. Qualquer brasileiro lembra bem da história e do sentimento de luto, que assolou o país na época.


A decisão de fazer a minissérie não é inesperada, já que o "aniversário" da data traz atenção sobre o tema. Quem também apostou na temática foi o Globoplay, que lançou o documentário "Boate Kiss - A Tragédia em Santa Maria" — com entrevistas com sobreviventes e pais de vítimas, que montaram a própria instituição de apoio. Porém, o título de ficção traz um novo olhar sobre a tragédia, o que emocionou o público e também levantou polêmica entre as famílias que lutam por justiça até hoje.


Confira o que achamos da minissérie e a reação dos pais das vítimas, que ameaçam processar a Netflix após o lançamento.



"Todo Dia a Mesma Noite" traz ficção para tragédia


"Todo Dia a Mesma Noite" é baseado em livro de mesmo nome da jornalista Daniela Arbex, publicado pela Intrínseca em 2018, e a direção ficou por conta de duas mulheres Júlia Rezende e Carol Minêm. Na produção audiovisual, as histórias contadas são, em sua maioria, reais e unidas nos mesmos personagens que têm todos os seus nomes inventados. A sobrevivente Kelen, que teve a perna amputada, vira Grazi (Paola Antonini), por exemplo.


Além da modelo Paola, conhecida por contar sua história como mulher amputada, temos nomes como Débora Lamm, Thelmo Fernandes, Bianca Byington, Paulo Gorgulho e mais no elenco. A minissérie está fazendo bastante sucesso, sendo comentada por famosos como Bianca Andrade e João Guilherme, que se mostraram verdadeiramente emocionados pelos episódios.


Dor sem fim e busca por justiça


Sabemos de detalhes da tragédia e da luta constante por justiça dos pais e familiares. A minissérie inova ao mostrar mais da família e até momentos antes do acidente. Vemos o aniversário de uma das vítimas, dias antes de morrer — algo que realmente aconteceu na vida real. No roteiro, também é possível ver diálogos dos pais, revoltados com o descaso dos empresários e do estado, com a vida de seus filhos.


Não vou mentir, é uma série que vai mexer com tudo em você. Em conversa com amigos, vi que não fui só eu que tive ansiedade após o primeiro episódio e precisei de um tempo para continuar a assistir. Os dois primeiros capítulos são os piores, mais dolorosos e revoltantes. Os telefones dos cadáveres vibrando com chamadas de mães, os gritos de dor dos pais no ginásio quando reconhecem seus filhos, o pânico de não encontrar os jovens nos hospitais...


Ao mesmo tempo, te faz pensar. Quantas vezes você esteve em um lugar tão desregularizado como a Kiss, sem saber? O que te separa dos 242 jovens, com sonhos e propósitos na vida, que saíram para uma festa e nunca mais voltaram? É algo que também motivou mudanças nas leis e fiscalizações pelo Brasil. Até hoje, 10 anos depois, o julgamento não foi concluído e os donos da boate e integrantes da banda — responsáveis pelas atitudes que começaram o incêndio — não foram presos.


Série da Netflix revive tragédia da Boate Kiss (Foto: Reprodução / Netflix)

Família de vítimas vão processar a Netflix?


Fazer produções sobre crimes reais requer responsabilidade — o que nem sempre acontece. Segundo o Gaúchazh, os familiares afirmam que foram pegos de surpresa com a série, que traz elementos de ficção para a história que virou manchete e matérias jornalísticas em todo o mundo. "Ninguém nos pediu permissão. Nós queremos saber quem está lucrando com isso. Não admitimos que ninguém ganhe dinheiro em cima da nossa dor e das mortes dos nossos filhos", afirmou Eriton Luiz Lopes, coordenador do grupo de pais das vítimas e pai de Évelin Costa Lopes, morta na tragédia aos 19 anos.


Na matéria, Lopes também diz que muitos pais voltaram para a terapia após o lançamento da série e que o processo legal, que supostamente planejam abrir contra a Netflix, não é para obter dinheiro para eles mesmos, mas para a causa e para os sobreviventes. “Queremos entender quem autorizou, quem foi avisado, porque muitos de nós não fomos. Há pais passando mal por causa da série. O mínimo que exigimos agora é que uma parte do lucro seja repassada para tratamento de sobreviventes e para a construção do memorial da Kiss. Nós não queremos nenhum dinheiro para nós”, concluiu.


Algo parecido aconteceu com a Netflix, nos Estados Unidos, após a plataforma lançar série ficcional sobre Jeffrey Dahmer, serial killer que matou cerca de 17 meninos. As famílias, magoadas por terem que reviver sua dor, disseram que não autorizaram a reprodução.


Por outro lado, por meio do Instagram de Daniela Arbex, Gabriel Barros, Presidente da Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria, negou processo, neste domingo (29): "Estávamos cientes que a produção estava sendo realizada com base nos personagens do livro 'Todo Dia a Mesma Noite: A História Não Contada da Boate Kiss', de Daniela Arbex, e [a Associação] sente-se representada por ela bem como pelo livro [...] Todos os familiares de vítimas e sobreviventes retratados estavam cientes e em concordância. Reiteramos que não estamos movendo nenhum processo contra as produções". O Presidente também apontou que a Associação está disposta a auxiliar todos que se sentiram mal pelos lançamentos.


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