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Crítica: Nós precisamos de mais realities como Good Girl

A reputação da Mnet foi para a lama depois da descoberta da (óbvia) manipulação de votos no Produce X 101, que fez suspeitas se espalharem nos demais reality shows da emissora. A Mnet, que não é burra nem nada, decidiu conter um pouco o dano à sua imagem com o lançamento do Good Girl, programa em que artistas se reúnem em um time para preparar apresentações musicais e “roubar” o dinheiro da emissora — vocês veem como a Mnet é boazinha? (sarcasmo) Entretanto, no final das contas a proposta e funcionamento do Good Girl é um pouco mais complexo do que isso, então vem comigo conhecer o programa.


Apresento as good girls | Foto: Reprodução

Como funciona Good Girl?


O mote do reality show é “quem roubou a Mnet?”. As dez participantes do programa devem preparar apresentações musicais em cada etapa para disputar pelo dinheiro prometido pela emissora. Como a Mnet está bastante preocupada em ficar bem na fita, ela abriu mão da rivalidade feminina (que era tão responsável pela audiência de Unpretty Rapstar e Produce 101) para promover uma tal sororidade de cantoras com a união de um time bem diversificado.


Ou seja, a ideia não é que as participantes compitam entre si pelo dinheiro, e sim que se dividam em grupos para vencer concorrentes de fora selecionados pela Mnet. E é aí que entram as figurinhas certas dos realities da emissora: as crias da Mnet. Nada, do Unpretty Rapstar 3 e ex-WA$$UP, ganhou 20 mil closes dos cameramen na plateia, já que estava se preparando para um comeback e tinha que lembrar os coreanos que ela existe.


A aparição da galera do Show Me The Money, por exemplo, foi nem um pouco surpreendente. Mas, importante ressaltar, os shows que essas participações renderam foram muito muito bons. Então a Mnet se promove e distribui favores para seus filhos (olá, G-Dragon) enquanto a gente ganha música boa. Achei uma troca justa — na medida do possível, se tratando da Mnet, claro.


Alguns dos concorrentes que aproveitaram a visibilidade do programa | Foto: Reprodução

Algumas aparições terminaram não sendo tão agradáveis, como o vídeo de boa sorte da Jimin na última rodada do Good Girl, que foi transmitido poucos dias antes da Mina colocar a boca no trombone e terminar com Jimin se aposentando do entretenimento para o resto da vida. Mas confesso que achei hilárias as tentativas de edição da Mnet para tirar o foco do Youngmin no episódio do AB6IX, depois de ele sair do boy group por ser pego dirigindo embriagado.


Quando o Good Girl foi inicialmente anunciado pela Mnet, muito se especulou que seria mais um reality show sobre hip-hop (e daí todos os questionamentos que se sucederam: “o que faria ele ser diferente do Unpretty Rapstar?”), e isso aparece, por exemplo, com o tal do “flex money” disputado em toda rodada (sério, flex...). Contudo, o que faz o Good Girl se destacar, mais do que o sistema de “time sororidade é tudoh!”, é o elenco diversificado em gênero que nunca alguém esperaria, com idols, rappers e cantoras de cenários mais nebulosos.


As good girls na rodada final do programa | Foto: Reprodução

Mas quem são as good girls?


Os nomes mais conhecidos do elenco são Hyoyeon (do Girls’ Generation), Ailee, Yeeun (do CLC), Jiwoo (do KARD) e Cheetah. A (agora) Jamie também é um rosto familiar, mas a mudança de nome artístico a tornou momentaneamente uma nugu. Pelo menos agora, com menos uma Park Jimin em cena (tchau, AOA), a confusão com tantos artistas com o mesmo nome deve diminuir.


Eu cheguei ao Good Girl pela Jiwoo, e ela não me decepcionou. Eu esperava mais da música final dela — Wet me lembrou demais de Drip Drop do Taemin —, mas o restante da participação artística de Jiwoo cumpriu bem a proposta, e foi ótimo vê-la explorando o sex appeal que ela sabe muito bem que tem. Espero que a aparição dela tenha ajudado a aumentar a fama do KARD na Coreia, porque não tem como aquele grupo ser bancado apenas pelos fãs latinos.


Qualquer coisa da Ailee é sempre bem-vinda para mim porque essa mulher é fantástica, mas queria que ela tivesse aparecido mais no reality. Talvez eu tenha ficado com essa impressão porque nem Don’t Cry For Me nem GG emplacaram para mim — uma é lenta demais, e a outra tem um drop bem meh no refrão para me agradar. Grenade foi maneirinha com a Yunhway.


Hyoyeon, Jiwoo e Ailee | Foto: Reprodução

A Yeeun foi bem mais ou menos. Eu amo o CLC e acho o conjunto da obra ótimo, mas nenhuma das integrantes nunca me chamou a atenção. Mesmo assim, foi adorável vê-la elaborando toda uma nova identidade e arte sozinha no jogo, mas se a Yeeun realmente visar uma carreira solo no futuro, ela deve trabalhar para desenvolver algum diferencial, senão será só mais uma mesmo. O melhor que a participação de Yeeun no Good Girl pode gerar é fazer a Cube lembrar que o CLC existe e parar de puxar o saco da Soyeon.


A Cheetah estava praticamente em casa no Good Girl, depois de aparecer no Unpretty Rapstar e em tantos Produces da Mnet, então não tenho nada a dizer fora que ela arrasou muito, como sempre. Por outro lado, a Hyoyeon deixou muito a desejar. A adoração que todo mundo tinha por ela foi bem nostálgico de ver, considerando a maneira como o Girls’ Generation é praticamente uma múmia ignorada pela SM no momento, mas a participação dela ficou por isso mesmo.


A rigidez dela com a Sleeq nos primeiros episódios foi muito chata, e a Hyoyeon pareceu meio sem função no reality, porque havia outras rappers bem mais especializadas (como a Youngji e a Cheetah), outras idols (vide Yeeun e Jiwoo), pessoas com vocais habilidosos (Jamie e Ailee) e as meninas, em geral, dançavam bem. Ou seja: Hyoyeon terminou sem um diferencial (exceto carregar o título de integrante do grupo da nação) e a surpresa que todas as participantes tiveram com seu canto não impactou nenhum sone porque quem é fã sabe que os vocais de Hyoyeon têm um nível de habilidade (nada perto de uma Jessica ou Taeyeon, claro), mas ela não tinha espaço para mostrar isso no Girls’ Generation.


Jamie, Youngji e Yunhway: aquela amizade de bastidores que a gente gosta | Foto: Reprodução

Dentre as não-tão-famosas-assim, a Yunhway me deu uma vibe Heize muito forte, mas ela apresenta alguns diferenciais e realmente desejo que a carreira dela deslanche agora. Conhecer Queen Wasabii e Sleeq foi o ponto alto da seleção de participantes do Good Girl, porque eu nunca teria descoberto o trabalho delas por conta própria. A Lee Youngji também foi um baita achado, porque ela é simplesmente adorável (em um jeito completamente diferente da Yeeun, por exemplo) e animada. E ela tem só 17 anos e é tão talentosa! Gente como ela e a Billie Eilish me deixa deprimida.


É fato que todo mundo aceitou participar do Good Girl para aparecer na TV por razões variadas, desde para renovar uma carreira solo ou para colocar seus grupos no mapa. A possibilidade de dar visibilidade para tanta gente anônima (no sentido de fora do mainstream do k-pop) foi a melhor parte do reality, junto a assistir ao desenvolvimento da amizade e aliança entre as garotas. Óbvio que nem todo mundo ali deve se bicar, mas foi ótimo conferir as trocas entre si, sem a necessidade de rivalidade.


Melhores apresentações de cada rodada


Headlock, de Ailee



A Mnet chegou na Ailee e disse algo tipo “Você tem que fazer uma apresentação para mostrar o seu estilo musical”. E a Ailee simplesmente pegou uma B-side do butterFLY (2019) e fez um puta show porque ela sabe que ela pode. A Ailee tem experiência e carisma o suficiente para dominar o palco como se fosse nada demais, e se mostrou de forma aparentemente mais natural e espontânea do que Jiwoo, Yunhway ou Jamie, por exemplo.


Ayy Macarena, de Queen Wasabii e Lee Youngji



Youngji e Wasabii entregaram uma apresentação bem divertida e que correspondeu exatamente ao que era esperado delas duas — e não falo isso como se fosse algo ruim. Até mesmo os equívocos na coreografia pareciam fazer parte do show, e a pegada caseira e descompromissada combinou com ambas.


Turl, de Cheetah e Hyoyeon



Eu pessoalmente achei que Cheetah foi a pessoa com quem Hyoyeon ficou mais confortável trabalhando no Good Girl inteiro. Ela não teve muitas oportunidades para expor seus talentos no Girls’ Generation (ainda mais quando eram nove integrantes), então o Good Girl foi positivo nesse ponto. Achei legal também que Hyoyeon se aventurou mais com o canto na música, já que fazer muito rap seria chover no molhado, uma vez que essa é a especialidade de Cheetah.


One More Night, de Yunhway



One More Night é a música de verão que eu precisava na minha quarentena. Yunhway pode ter perdido para o gogó da Hyolyn, mas ela é número um no meu coração. Diferente da sua outra apresentação solo da primeira rodada, Yunhway apareceu mais confortável e divertida, em vez de puxar para algo mais sensual e “badass” como fizera no começo do Good Girl.


A menção honrosa dessa rodada vai para Witch, que todo mundo do fandom praticamente amou, e a Mnet fez questão de usar isso para sua autopromoção típica, exibindo um print com o número de visualizações da apresentação no YouTube nos últimos dois episódios do programa.


That’s My Girl !!!, de Lee Youngji e Yunhway



Youngji pode ter se enrolado com o rap em alguns momentos da apresentação ao vivo, mas dane-se, eu não falo coreano e essa música é número um nas paradas da Minha Casa (com letras maiúsculas para efeito de credibilidade). Youngji e Yunhway arrasaram no palco e os versos estão ótimos, com cada uma assumindo seu ponto forte: Youngji pode cuspir as rimas o mais rápido que quiser, mas logo vem Yunhway com sua voz estilo R&B jogando uns versos mais pausados para mudar completamente o ritmo da música.


Sorry for winning, de Queen Wasabii e Sleeq



Essa música é quase terapêutica, e a ideia de Wasabii e Sleeq de pegarem as ofensas de netizens por uma ser “vulgar” e a outra “masculina” foi fantástica. A melodia é animada e dá aquele boost de autoestima que todo mundo precisa às vezes. A produção da apresentação também merece destaque, com toda a questão de Sleeq e Wasabii bancarem o show por conta própria com dançarinos voluntários.


A proibição da Mnet do dance break com Wasabii fazendo twerk com as mãos no chão não deve ser esquecida: “É a realidade da Coreia”, comentou ela após tirar o passo de dança da coreografia. Então está liberado dançar com figurino que imita lingerie (como o Oh My Girl fez alguns episódios antes), mas é problemático assumir sua sensualidade. Entendemos a mensagem, Mnet.



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