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Crítica: "Mistério e Morte no Hotel Cecil", da Netflix, vale a pena?

Na última quarta-feira (10), a Netflix lançou mais uma série documental para complementar a sua coleção de crimes e mistérios contemporâneos. Dessa vez, o foco é o Hotel Cecil, localizado em Los Angeles e palco de diversas situações, no mínimo, estranhas. O alvo principal é o caso de Elisa Lam, canadense de 21 anos, que desapareceu enquanto estava hospedada no local, em 2013. Em quatro episódios de um pouco menos de uma hora "Mistério e Morte no Hotel Cecil" busca explicar a história por trás do lugar dito assombrado por muitos americanos.


Se você, como eu, adora um mistério e ficar por dentro de crimes populares na sociedade, provavelmente vai se sentir tentado a assistir a série. E, tendo como referências algumas obras excelentes da empresa de streaming, como a outra série "Night Stalker" (2021) e o filme "Amanda Knox" (2016), que abordam a vida de um serial killer e um caso específico de homicídio respectivamente, aposto que vai se animar com a proposta. Mas, afinal, será que vale a pena?

Relembre o caso de Elisa Lam

Você provavelmente já ouviu falar sobre Elisa Lam. Há alguns anos a moça tomou conta da timeline no Twitter graças a um usuário especializado em falar sobre histórias macabras, que decidiu compartilhar o famoso vídeo de Elisa no elevador do hotel Cecil - última vez que a menina foi vista. Lá em 2013, o vídeo intrigou os americanos que estavam envolvidos na busca. Por alguns minutos, a jovem parece perturbada, em um elevador que não fecha as portas. Seu comportamento é estranho, quase psicótico. Diversas pessoas criaram teorias sobre o vídeo. Confira o momento que marcou o caso de Elisa:


Mas, caso você não conheça a história, um pouco de contexto: Lam tinha 21 anos quando decidiu viajar sozinha pela Califórnia por algumas semanas, durante janeiro e fevereiro de 2013. No documentário, vemos que era um sonho da menina que buscava sua independência após viver toda a sua vida sob o teto dos pais. A mãe autorizou a viagem com uma condição: Elisa deveria ligar todos os dias. E assim foi, mais precisamente até 1 de fevereiro, dia em que a moça deveria realizar o checkout no hotel em que estava hospedada em Los Angeles, o Cecil Hotel, mas não apareceu. Seus pais não conseguiram entrar em contato e decidiram acionar a polícia americana.


É uma história real, então não existem exatamente spoilers. Mas se você não conhece o caso e quer se surpreender, aconselho pular *apenas* o próximo parágrafo!


Cinco dias antes de encontraram o corpo de Elisa, os investigadores do caso se deparam com o estranho vídeo da menina no elevador. A situação, que já chamava muita atenção no país, ganhou ainda mais notoriedade. Youtubers analisavam o caso, curiosos iam até o hotel e internautas faziam grupos no Facebook para cobrar posicionamento da polícia. Até que então, dia 19 de fevereiro - quase 20 dias após seu desaparecimento - Elisa é encontrada morta, na caixa d'água do hotel, por funcionários.

Pode ler a partir daqui, galerinha.

Hotel Cecil foi palco de muitos mistérios | Foto: Divulgação / Netflix

História do Cecil Hotel


Afinal, "Mistério e morte no Hotel Cecil" é sobre o hotel, de fato, ou sobre Elisa Lam? Olha, acho que o documentário se propõem a falar dos dois, mas, sinceramente, acaba fazendo um trabalho mal feito em ambos os casos. Além de falar sobre a história de Elisa, mencionando suas questões e desafios, o trabalho também vai nos falar um pouco sobre o Cecil Hotel. Inaugurado em 1927, no centro de Los Angeles, o local tinha tudo para ser um grande sucesso. Em um momento do filme, uma ex-gerente, que ficou cerca de 10 anos trabalhando lá, faz uma comparação engraçada: "o Hotel Cecil foi tipo um Titanic. No início, parecia impossível que afundasse - mas todos sabem o que aconteceu com o navio" rs.


E falando nessa ex-gerente, que estava no cargo na época do desaparecimento de Lam, seu tempo de tela é desproporcional. Tudo bem, uma década de trabalho é muito importante - mas, de verdade, as suas contribuições ficam perdidas no meio da história de Elisa e de flashbacks do hotel durante seus anos de glória. Além disso, a equipe convida um historiador especializado na rua em que o Cecil era localizado. Isso porque o ambiente acabou se tornando ponto de drogas e morada de muitos sem teto e recém saídos de prisões e manicômios. Por isso, acabava sempre sendo alvo de repressão policial.


Eu consigo entender a necessidade de chamar o profissional. Inclusive, ele é uma das participações mais relevantes, em minha opinião. De longe, suas falas são alguns dos poucos momentos em que a série não trata os moradores da rua como um problema a ser resolvido, mas sim, como humanos em uma situação desumana. Mas, mais uma vez, sua contribuição fica solta dentro de várias histórias sobre o hotel e, novamente, no caso de Elisa Lam. Em um momento, o roteiro chega a mencionar Ramirez, um serial killer (que deu origem a série mencionada, "Night Stalker"), que chegou a morar no Hotel Cecil por algum tempo - afinal, o local também funcionava como moradia de baixo custo para pessoas com dificuldades financeiras.


Porém, as cenas repetidas com o Night Stalker, além de explicações de outros crimes e suicídios que acontecem no hotel, mereciam um filme a parte. No final, parece que vi pequenas partes de vários documentários, sem uma lógica coerente e, principalmente, sem uma narrativa linear. Para completar essa mistura no liquidificador, jogue mais internautas que ficaram obcecados pelo desaparecimento de Elisa e decidiram criar diversas - sério, diveeeeersas - teorias da conspiração sobre o caso. Confuso, né? Sim bastante.

Encenação dos últimos momentos em que Elisa foi vista | Foto: Divulgação / Netflix

Conspirações e patrulha da internet


Vamos lá de novo: eu entendo a participação da patrulha da internet. Eles, de fato, se envolveram bastante com a história de Elisa e puderam compartilhar detalhes do ponto de vista do público, que via apenas partes do que era divulgado pela polícia. Mas, como já disse, o caso de Elisa foi cercado por muitos mistérios e conspirações - que não posso entrar em detalhes sem correr o risco de dar spoilers (eu sei que você pode ler na Wikipedia o que rolou, mas né...).


Surtos de pneumonia, premonição, referências a filmes japoneses, inocentes sendo perseguidos... Tinha de tudo um pouco nessa salada conspiratória. E, sim, entre explicações históricas sobre o Hotel, análises sociais dos moradores da rua e, claro, sentimentos relatados por Elisa Lam, antes de partir para os Estados Unidos (esse é um dos pontos mais altos do filme, mas vamos chegar lá). De verdade, é tanta vertente de teoria que eu fiquei perdida. Pessoalmente, não sou muito fã de conspirações, talvez isso tenha prejudicado a minha relação com o filme. Algumas me surpreenderam, de fato, mas a maioria me deixou pensando: "gente, essas pessoas não trabalham, não?".


Outro ponto essencial na participação dessa patrulha virtual é que eles se envolvem muito no caso. Emocionalmente também. Vários deles colocaram como propósito de vida descobrir o que aconteceu com Elisa e cismavam contra os funcionários do hotel, os policiais e até mesmo médicos envolvidos na investigação. Chega ao nível de, como dito, perseguirem e ameaçarem um homem inocente - acreditando que ele era o responsável por tudo. Era óbvio que isso ia acontecer em algum momento e a série, apesar de mostrar o ponto de vista do acusado, não entra muito no mérito do quão errado foi tudo isso. A narrativa corre de maneira extremamente irresponsável, diferente de outra série da empresa de streaming muito interessante, "Don't F**k with Cats" (2019).


Sinceramente, na última metade no episódio final, o grupo é totalmente desmentido e parece que eu fiquei horas assistindo a teorias malucas, sem nenhuma finalidade. Teria achado, sinceramente, que toda série foi uma grande perda de tempo se não fosse pelo fato de que terminei conhecendo muito mais sobre Elisa Lam. A menina do vídeo estranho no elevador é apenas uma parcela ínfima de sua personalidade e o documentário consegue mostrar isso, inserindo narrativas de relatos escritos pela própria jovem em seu Tumblr, que funcionava como um diário virtual para ela. Elisa sofreu bastante e não é apenas o caso de uma menina com problemas psicológicos, como tendemos a reduzi-la.


Mas é impossível pensar, principalmente quando comparamos a outras séries super bem feitas da Netflix sobre crimes, que Elisa merecia muito mais do que esses quatro episódios.


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