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Foto do escritorFilipe Pavão

Crítica: Kany García nos convida a cantar as nuances do amor em “Mesa Para Dos”

Pela primeira vez, Kany García ganhou manchetes em portais de notícias e sites ligados à música no Brasil. Reflexo do lançamento do disco "Mesa Para Dos", o sétimo de inéditas da cantora, compositora e instrumentista porto-riquenha. Nele, temos a parceria com o cantor sertanejo Gusttavo Lima na apaixonada "Que Pasen Los Días", na qual os dois entram em uma bonita e necessária sincronia.


Se o rosto e o trabalho de Kany são novidades para o mercado musical brasileiro, o cenário é bem diferente nos nossos vizinhos latinos, onde ela é considerada uma hitmaker. Inclusive, já compôs a música “Llegaste”, gravada por Roberto Carlos e Jennifer Lopez em 2016. São mais de 4 milhões de ouvintes mensais no Spotify, shows por toda América Latina, Estados Unidos e Espanha, além de milhões de seguidores nas redes sociais, sendo atuante em pautas feministas e LGBTs.



O sucesso de Kany é resultado de uma carreira bem ativa. Na contramão do mercado fonográfico, ela lança discos em curtos espaços de tempo. De 2018 para cá, foram três: Soy Yo (2018), Contra El Viento (2019) e, agora, Mesa Para Dos (2020), com composições autorais que nasceram, foram cantadas em duetos e produzidas durante a quarentena.


Aliás, Kany está muito ativa durante a pandemia. Se aqui no Brasil temos Teresa Cristina como rainha das lives, Kany pode ser considerada a rainha das lives em Porto Rico. Fez 3 semanas de lives diárias no YouTube e Instagram, mesclando música, gastronomia, conversas e atividade física junto a sua esposa, Jocelyn Troche.



A produtividade da artista resultou em "Mesa Para Dos", um disco de dez baladas românticas que flertam com outros estilos musicais, como bachata e cumbia. Foi produzido pelo experiente Julio Reyes Copello, com quem Kany já havia trabalhado no seu terceiro álbum de estúdio, o qual rendeu um dos seus cinco Grammys Latino.


“Lo Que En Ti Veo”, em parceria com o violonista argentino Nahuel Pennisi, é a primeira faixa do álbum. Ela foi escolhida como single e resume bem a obra: um álbum majoritariamente acústico que nos convida para sentar em uma mesa e falar do amor e suas nuances. Todo mundo tem alguma história para contar, verdade? Com acordes ternos, Kany canta delicadamente. Já o clipe é um show à parte ao mostrar cenas pessoais de Kany e da esposa.



Outra faixa que vem ganhando espaço nas plataformas é “Titanic”, junto ao colombiano Camilo. Composta pelos dois, é a última faixa e o ápice dramático do álbum ao mesclar ressentimento e dor. “Caminhamos sem pensar e só nos resta o dano”, diz um dos versos. “Cobardes”, junto ao mexicano Carlos Rivera, tem a mesma pegada dramática, porém um cantar mais aberto e melodia mais agitada.


Já a composição de Kany com Carlos Vives é a mais alegre de todas e bem divertida. “Búscame” mescla pop e cumbia colombiana para falar daqueles amigos que nos convidam para um rolê bacana após dias de incerteza. Isso mostra como as composições da artista refletem o tempo em que vivemos.


Outra faixa que Kany divide autoria é em “Óxido”, com o espanhol Leiva. Para mim, é a melhor do disco. Eles cantam juntos quase toda a canção e em perfeita sintonia. É um pop leve, com melodia interessante e letra que traz um ar de mistério. “Mais uma vez, sopramos ar no fogo. Não queima a você, nem queima a mim”, diz tradução livre da canção - em espanhol, a letra ganha ainda mais força.



Reik, trio mexicano responsável por grandes sucessos na última década, se une a Kany em “Date La Vuelta”. Já o conterrâneo Pedro Capó comparece em “Nuevas Mentiras”. Ambas passam mornas se comparadas às demais. Ainda assim, a primeira tem um refrão marcante (“Vem, dê a volta e abra a ferida”) e a segunda cordas interessantes na melodia.


E claro que Kany não deixaria temas sociais de fora. Ela reserva isso às participações femininas. “Acompañame” é um grito por justiça social, tendo letra inspirada em manifestações recentes de seu país. Para acompanhá-la, ela escalou as colombianas Goyo (do grupo afrolatino ChocQuibTown) e Catalina García. “Me acompanhe para cantar por quem não tem voz”, convoca a canção em alto tom e batucada bem marcada.


com a chilena Mon Laferte canta, ou melhor, descreve cenas de violência doméstica em "Se Portaba Mal". É como se você estivesse sendo apresentado a um livro com início, meio e fim. Tapava a ferida para ir ao trabalho e se alguma pergunta, digo: eu caí da escada”, diz parte da letra. Chama atenção ainda a sonoridade das cordas que traz uma tensão necessária. Letra forte e melodia pop!



No geral, é um disco que percorre momentos diversos de nossas vidas: desde aos encontros com amigos até o romance e as idas e vindas das histórias. O trabalho consegue mostrar a personalidade musical de todos os convidados, sem deixar de evidenciar a de Kany García: uma das maiores hitmakers pop da atualidade em um mercado dominado pelo reggaeton. É forte candidato a concorrer em categorias da próxima edição do Grammy Latino.


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