Mana do Mês de abril: Glória Maria
Sabemos a importância da representatividade para que as pessoas possam se imaginar nas posições que desejam, principalmente as minorias sociais. E sabemos também que é a mulher negra que se encontra na base da pirâmide da desigualdade, recebendo menores salários e condições de trabalho, por exemplo.
E esse cenário não é diferente no telejornalismo brasileiro. Historicamente, poucos negros e negras estiveram a frente de reportagens e, principalmente, como âncoras em bancadas de telejornais. Por esse motivo, a categoria “Mana do Mês” de abril, quando se celebra a atividade jornalística, homenageia a repórter e apresentadora Glória Maria, considerada a primeira repórter negra da TV brasileira.
Mas, antes de apresentar os grandes feitos da extensa carreira da mãe das gêmeas Maria e Laura, vamos conhecer um pouco da infância de Glória e dos primeiros passos na graduação até a chegada na TV Globo.
Primeiros passos e chegada à Rede Globo
Filha do alfaiate Cosme Braga da Silva e da dona de casa Edna Alves Matta, Glória Maria Matta da Silva nasceu na zona norte da cidade do Rio, em Vila Isabel. Quanto ao seu nascimento, a data é incerta porque Glória não fala do assunto, mas alguns sites apresentam duas opções, que seria 1949 ou 1959.
Glória estudou em colégios estaduais até a adolescência e o interesse pelos estudos lhe rendeu uma ampla formação cultural. “Estudei inglês, francês, latim e vencia todos os concursos de redação da escola”, revelou em entrevista ao projeto Memória Globo.
Começou a trabalhar com apenas 16 anos como telefonista na Embratel para ajudar os pais nos custos de casa e para pagar o curso de Jornalismo na PUC Rio. Foi em 1970, levada por uma amiga, que começou a ser rádio-escuta da Globo do Rio.
Logo em seguida, foi promovida a repórter, ainda quando não se aparecia no vídeo. Sua estreia aconteceu em 1971, na cobertura do desabamento do Elevado Paulo de Frontin, no Rio de Janeiro.
Consolidação e pioneirismo
Desde o início da carreira na TV Globo, Glória quebrou barreiras e conquistou feitos importantes. Ela cobriu posses de presidentes, como a do Jimmy Carter nos Estados Unidos, entrevistou celebridades, como a cantora Madonna, e viajou a mais de 100 países.
Ela já fez parte da equipe no Bom Dia Rio, RJTV, Jornal Hoje, Jornal Nacional e Fantástico. E, hoje, divide apresentação do Globo Repórter com a jornalista Sandra Annemberg, programa investigativo que analisa temas de interesse geral da sociedade e apresenta culturas por todo o mundo.
Além de ser considerada a primeira repórter negra da TV brasileira, foi a primeira repórter a entrar no ar, ao vivo, na primeira matéria a cores do Jornal Nacional em 1977. Nessa reportagem, ela mostrou o movimento de saída de carros do Rio de Janeiro, no fim de semana.
Já em 2017, junto ao repórter cinematográfico Lúcio Rodrigues, Glória realizou outro feito inédito. Ela foi a primeira jornalista a fazer uma transmissão em HD na televisão brasileira. Foi uma reportagem para o Fantástico sobre a festa do pequi, fruta de cor amarela adorada pelos índios Kamaiurás, no Alto Xingu.
O racismo na profissão
Na década de 70, Glória foi barrada na porta de um hotel de luxo, na zona sul do Rio. Na época, o gerente justificou que "preto tem que entrar pela porta dos fundos", mas ela chamou a polícia. A Lei Afonso Arinos contra a discriminação racial no Brasil foi usada e o funcionário foi demitido.
Outro episódio que chama atenção em sua história foi o desentendimento com o presidente João Batista Figueiredo, em plena Ditadura Militar no Brasil, quando ele fez o discurso conhecido como “eu prendo e arrebento” para defender a abertura em 1979.
Após uma discussão, a repórter corrigiu o português de Figueiredo, virando desafeto do então ditador. Após esse episódio, onde ela chegava, o ex-presidente barrava a sua entrada e dizia aos seguranças que não deixassem “aquela neguinha” chegar perto dele.
Apesar desses casos, Glória já disse ter superado os preconceitos sofridos por ser mulher, negra e por ter vindo de família pobre. Em uma entrevista ao Globo.com, ela comentou ter de enfrentar muitas barreiras e obstáculos para conseguir as coisas.
“Tudo é mais difícil para um negro. Você tem que provar 100 vezes que você é o melhor. É cansativo, duro e doloroso. Se você não tiver uma força extraordinária, não consegue passar por isso”.
Ao longo de seus 50 anos de carreira, Glória conquistou feitos, tornou-se referência para inúmeros profissionais e já visitou mais de 100 países. Tudo isso não cabe em apenas um post. Será na segunda parte desta reportagem, no próximo dia 25, que você poderá conferir as principais reportagens da carreira dessa grande jornalista.
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'Mana do mês' é a personalidade feminina influente escolhida para ser homenageada pelo Telas. Todo mês uma mulher importante e relevante é selecionada para contarmos sua história e legado.
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