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Foto do escritorFilipe Pavão

Em "Descontrole Público", espectador conduz ações dos personagens virtualmente

Sexta-feira combina com teatro, mas há cerca de um ano e meio não podemos assistir espetáculos pelos palcos Brasil afora. Mas, em momentos de dificuldade, a arte se reinventa e explora novas possibilidades. É o que faz o Núcleo Pequeno Ato, do diretor Pedro Granato, ao estrear, nesta sexta-feira (20), a peça "Descontrole Público", que explora a estética dos games em um espetáculo que amplifica as fronteiras entre o teatro, cinema e performance digital.

Descontrole Público é uma peça que une o universo e interatividade ao mundo teatral
Foto: Victor Otsuka

O Telas Por Elas conversou com o diretor e as atrizes Andressa Lelli, Beatriz Carmo e Mariane Aguiar - sim, nossa astróloga favorita e colunista do AstroTelas - para saber tudo o que podemos esperar do espetáculo. Com 20 atores e atrizes em cena em "Descontrole Público", o espectador conduz por comando de voz as ações de seis jovens que se encontram presencialmente pela primeira vez após muito tempo de isolamento. Bem atual, verdade?


"Descontrole Público" fica em cartaz até dia 5 de setembro, de sexta à domingo, sempre em sessão dupla noturna, por R$ 20 - os ingressos podem ser adquiridos no Sympla. É fruto das pesquisas do núcleo, que investiga o teatro imersivo e a formação de novos públicos, muito ensaio durante dez meses via Zoom e dramaturgia de Beatriz Silveira e Felipe Aidar. Traz ainda debates e reflexões de cunho político e social.

 Descontrole Público é uma peça que une o universo e interatividade ao mundo teatral
Foto: Victor Otsuka

- É uma peça inovadora por unir a estética de games e a interatividade ao teatro, fruto das pesquisas do Pequeno Ato. O que vocês observaram durante os ensaios?


Pedro: O processo de criação e ensaios foi justamente para alargar essas fronteiras, nos reinventar sem os encontros presenciais e buscar novas formas de estar online. Fugir um pouco daquela coisa estática de um ator em frente a um computador, ou um palco com uma câmera, e buscar novas maneiras de engajar a plateia, contar uma história. Com isso, a gente foi buscando outras linguagens como cinema, videogame e redes sociais.


- Como vamos observar essa interatividade durante o espetáculo?


Pedro: Vocês não vão só observar como vão participar. O público pode abrir o microfone e conduzir o ator ou a atriz, que no espetáculo se torna um avatar. Quem quiser ficar só observando os outros conduzindo, pode ficar. Mas quem quiser tomar as rédeas da situação, foi para isso que o espetáculo foi feito. Então, cada dia vai ser diferente, cada plateia vai dar uma tônica, um jogo, uma cor para a situação. Vai ser riquíssimo para ver os seis núcleos. Você vai viver diferentes experiências com as diferentes plateias.


- O público vai poder controlar os personagens, mas qual é a história de partida de "Descontrole Público". O que podemos esperar? Que reflexões vai nos trazer?


Pedro: O nome "Descontrole Público" vem da brincadeira de que o público controla a situação, ao mesmo tempo que é uma situação que já parte de um nós. Não é que o público deseja em folha em branco, ele está sempre colocado diante de conflitos e as outras personagens vão colocar o publico diante de dilemas, de escolhas. A gente vai refletir muito sobre o peso das ações, mas também sobre isolamento, racismo estrutural, transfobia, assédio, etc. Cada núcleo tem uma série de nós que o público vai ter desenlaçar.

 Descontrole Público é uma peça que une o universo e interatividade ao mundo teatral
Foto: Victor Otsuka

- Vocês vão ser conduzidos pelos espectadores durante o espetáculo. Como é chegar em cena sem saber o que vai acontecer com os personagens? Quais são os desafios?


Mariane: É muito legal fazer um espetáculo totalmente improvisado, nós sabemos quem nós somos ali na festa, nossos objetivos como personagem, mas o público pode mudar totalmente a história dependendo de como ele for conduzindo os seis personagens controlados, é uma experiência muito divertida e você não pode fazer planos ou estratégias, apenas viver o momento, não tem como prever, isso é divertido e também desafiador.


Beatriz: O friozinho na barriga não vai embora nunca, mas é uma delícia pensar em construir uma história nova a cada sessão. Uma super oportunidade como atriz de se jogar e estar disponível para embarcar com o público nessa. Sem dúvida, os maiores desafios são a escuta, saber conduzir o que o público espera e não ter como prever quase nada que vai acontecer. Além de ter que levar um suporte no ombro para filmar as ações e ser os olhos, ouvidos e boca da plateia rs.


Andressa: Temos que ter várias cartas na manga. E temos também que nos antecipar e pensar nas mais variadas possibilidades de caminhos para onde o público pode nos levar – ainda assim ele sempre pode nos surpreender. Vejo como grande desafio responder à altura às propostas do público, criar algo interessante para a cena e combinar com a linha dramatúrgica inicialmente pensada.

 Descontrole Público é uma peça que une o universo e interatividade ao mundo teatral
Foto: Victor Otsuka

- Como é fazer uma peça no formato online e não ter a presença do público em frente ao palco?


Mariane: É muito diferente, estou feliz que, pelo menos, nós do elenco estamos todos reunidos presencialmente porque seria muito triste fazer um espetáculo dentro de casa, gostaria muito que o público também pudesse participar presencialmente, mas o lado bom é que a peça online pode atingir pessoas de várias partes do Brasil e do mundo. O lado desafiador é a parte técnica que sempre temos que verificar tudo com antecedência.

Beatriz: É triste pelo momento em que estamos vivendo, pensar em como a pandemia transformou as nossas vidas e também a forma de produzir arte. Mas ainda sim é potente pensar que a arte resistiu a mais esse desafio e agora podemos levar a nossa pesquisa para o público, mesmo que a distância. Fazer uma peça na pandemia é com certeza uma forma de resistência!


Andressa: "Descontrole Público" é uma experiência radical porque estamos todos (atores) juntos em um teatro novamente, porém sem ver nem ouvir o público – somente os seis personagens controlados ficam em contato com os comandos de voz da plateia. É uma relação muito interessante porque todos os estímulos chegam para nós através dos controlados.

 Descontrole Público é uma peça que une o universo e interatividade ao mundo teatral
Foto: Victor Otsuka

- Estamos vivendo um retorno gradual das atividades culturais e com muitos cuidados sanitários, claro. O que vocês sentem nesse momento, tão perto da estreia?


Mariane: Todos os atores gostariam de fazer esse espetáculo sem máscara, a maioria está vacinado pelo menos com a primeira dose, mas ainda é arriscado tirar as máscaras em um ambiente fechado, acho que todos do elenco estão imaginando e desejando voltar com a peça em outro momento e fazer o espetáculo sem máscaras. É estranho, mas estamos nos adaptando, também tem a questão do microfone captar a nossa voz, os ruídos de fundo porque estamos dentro de uma festa, por isso é um espetáculo bem difícil de realizar.


Beatriz: Sentimos um alívio, mas sabemos que não dá pra relaxar! Passamos muito tempo em ensaios pelo Zoom e voltando aos poucos para o presencial. Para quem faz teatro, não estar próximo do seu grupo, isso é um desafio enorme. É exatamente por isso que não queremos colocar esse esforço em vão. Nos cuidamos o máximo até aqui e vamos continuar fazendo o que for preciso para garantir a segurança de todos, por isso inclusive optamos por usar máscara na peça. Continuar se cuidando é um passo fundamental para que o presencial volte com força e sem riscos.


Andressa: É um misto de sentimentos. Uma ansiedade e alegria muito grandes em voltar logo para os palcos e, ao mesmo tempo, uma sensação de alerta. Acho que a pandemia causou essa sensação de estarmos o tempo todo alertas física e mentalmente. O que posso dizer é que essa complexidade de vontades e sentimentos enriqueceu muito nosso processo, nossa criação de personagens e, consequentemente, nossas cenas. "Descontrole Público" é sobre o reencontro de amigos, tudo o que se deseja depois de tanto tempo isolados. Então nós estamos por inteiro ali. Tanto os personagens descarregando suas energias, quanto os atores conscientes da situação crítica do país, podendo sentir a volta da atividade artística da forma mais sensível e presente.


Serviço "Descontrole Público"

Do Núcleo Pequeno Ato

De 20 de agosto até 5 de setembro

Formato online e interativo


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