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Vamos Polemizar: Anitta, Felipe Neto, Pugliesi e a função social do artista

A arte está em todos os lados: na música que ouvimos nas plataformas digitais, no quadro pintado na parede, no longa-metragem projetado dentro da sala de cinema e porque não, com o constante avanço tecnológico, em conteúdos produzidos especialmente para a internet.


Entende-se que a arte vai além da função de entreter as pessoas e sempre foi assim. Instrumentos artísticos já foram usados para difundir ideais cristãos e usado como ferramenta política de governos. Mas, sobretudo, como um instrumento de resistência e de conscientização da população.


Hoje, a arte deve assumir sua função transformadora a partir de quem a produz, ou seja, dos artistas e influenciadores. Em entrevista ao G1 Nordeste, em 2013, a professora Flávia Suassuna comentou sobre o alcance da arte:


Se você considerar, por exemplo, que a língua só serve para a gente se comunicar, você não vai entender para que serve a literatura, porque com a língua a gente também simboliza, esconde, pluraliza sentidos. A arte joga com isso. É lógico que toda obra tem alcance de mudar uma pessoa. Acho que não tem o alcance de mudar a sociedade, mas de mudar pessoas. E são as pessoas que mudam o mundo.

O Vamos Polemizar? de hoje traz justamente o debate em torno da função social da arte e do artista, com ênfase nos influenciadores digitais, responsáveis por mobilizar milhões de seguidores nas redes sociais. Vamos analisar três casos distintos: o mau exemplo da musa fitness Gabriela Pugliesi durante a pandemia, a guinada política do youtuber Felipe Neto e o debate político mobilizador produzido pela cantora Anitta em seu Instagram.


Anitta, Felipe Neto e Gabriela Pugliesi. (Fotos: Reprodução)


A influencer Gabriela Pugliesi e a festa durante pandemia


Desde que a pandemia do novo coronavírus tomou conta de nossas conversas (e de nossas vidas), a influencer Gabriela Pugliesi vem tendo o seu nome ligado ao vírus. E não é de maneira positiva conscientizando seus milhões de seguidores nas redes sociais.


Tudo começou com o casamento luxuoso da irmã da influencer fitness, em 7 de março, no litoral baiano. A festa particular virou assunto nacional por ser um dos primeiros focos da doença. A própria influenciadora se contaminou, além de outras pessoas.


Em seguida, Pugliesi voltou aos holofotes ao agradecer o coronavírus por ter mudado o mundo e as pessoas. Mas o cancelamento definitivo da influencer se deu quando ela organizou uma festa no final de abril.


Enquanto o Brasil já somava mais de 58 mil casos e 4 mil mortes pela doença, Pugliesi gritava “foda-se a vida” em vídeos com amigos. A festa, que era para receber a ex-BBB Mari Gonzalez, virou o assunto mais comentado no Twitter e causou reações devido ao perigo de se fazer uma festa em meio à pandemia.


Após repercussão, Pugliesi pediu desculpas, mas não foi suficiente e ela precisou desativar a sua conta no Instagram para evitar fuga em massa de seguidores. Mas não conseguiu impedir que grandes marcas se desvinculassem, como Kopenhagen, Rappi, Desinchá e Hope.


Diversos famosos também se manifestaram contra as atitudes da influencer. “Eu acho essa atitude, ainda mais para um monte de gente que te segue e se inspira na sua vida saudável, inadmissível”, comentou a apresentadora Tatá Werneck na postagem de desculpas de Pugliesi.


Esse caso levantou debates em torno de quem são e quais são os conteúdos propostos pelas pessoas que estão se tornando influenciadoras e, consequentemente, ganhando espaço na mídia. O caso Pugliesi serve para uma reflexão: você já parou para analisar se o artista que você segue está preocupado com a coletividade? Fica o conselho de incentivar quem realmente produz conteúdo consciente e empático.



O youtuber Felipe Neto e o posicionamento antifascista nas redes sociais


“Estamos oficialmente contra um regime fascista, e quem se cala perante o fascismo é fascista. Ponto final”, disse o youtuber Felipe Neto em um carta aberta publicada em suas redes sociais a outros influencers.


Tal posicionamento do também ator e escritor seria impensável há quatro ou cinco anos. Em 2016, ele se colocou a favor do impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff, mas não utilizava a internet para produzir um espaço de debate crítico à política e à sociedade em que vivemos. Ele reservava o espaço apenas para a produção de vídeos destinados ao público infantil e adolescente.


Essa mudança de perspectiva de Felipe foi assunto na recente entrevista que ele concedeu ao programa Roda Viva, da TV Cultura. Ele comentou que errou “por falta de estudo, profundidade e por elitismo”. Agora, Felipe se opõe diariamente às atitudes conservadoras do governo Bolsonaro, além de comentar questões relacionadas ao combate ao coronavírus sendo a favor do isolamento social.


A verdade é que o youtuber vem trabalhando para mudar a sua imagem: de um jovem adulto com cabelos coloridos que falava sobre games ou opiniões alinhadas à direita para um homem adulto que fala sobre política e se posiciona contra qualquer forma de opressão e transgressão de direitos.


Tal mudança é positiva não só para sua imagem, mas para o próprio ambiente digital. Afinal, possui mais de 38 milhões de inscritos no seu canal do YouTube, 12 milhões de seguidores no Instagram e 11 milhões no Twitter, onde compartilhou o vídeo-carta aberta.


Felipe entendeu que seus depoimentos podem fazer a diferença e contribuir para disseminar ideias progressistas em tempos que governos com medidas consideradas autoritárias estão no podem.


No momento que ele vai numa manifestação que pede o fechamento do STF e do Congresso Nacional, que pede a implementação do AI-5, de ditadura militar, e ele vai nessa manifestação, e ele grita no palanque dessa manifestação, acabou passada de pano. Influenciador que não se manifesta agora é cúmplice. Estamos oficialmente contra um regime fascista, e quem se cala perante o fascismo é fascista. Ponto final. - declarou Felipe

A cantora Anitta e os debates políticos no Instagram


Anitta já foi cancelada por não se posicionar politicamente em episódios passados. Mas essa realidade mudou durante a pandemia. A também empresária, que tem mais de 47 milhões de seguidores somente no Instagram, passou a usar a rede social como palco para debates políticos.


Antes da artista carioca assumir as manchetes de notícias por sua briga com o blogueiro de fofocas Léo Dias, assunto que não está em pauta nesse texto, as manchetes referentes a Anitta nos jornais eram sobre as mudanças políticas que os debates proporcionaram como falaremos mais adiante. Mas, já serve parar demonstrar que a pressão popular faz a diferença.


Em entrevista ao jornalista Pedro Bial, da TV Globo, ela disse que decidiu estudar política justamente após cobranças por posicionamento. Ela contou com a ajuda da advogada e comentarista da CNN Brasil, Gabriela Prioli. As duas realizaram lives sobre questões políticas. O projeto foi intitulado de “Entendendo Política” e explicou a diferença entre os três poderes (Legislativo, Executivo e Judiciário), a dualidade entre e esquerda versus direita e outros tópicos.



Além de Gabriela, ela também fez live com o deputado Alessandro Molon (Rede-RJ) sobre a MP da Grilagem, que facilitaria a regularização fundiária no país e tem o apoio da bancada ruralista. Além disso, debateu com o deputado Felipe Carreras (PSB-PE) sobre sua proposta de alterar a cobrança de direitos autorais destinada aos artistas.


A emenda na Medida Provisória n° 948, de 2020, de autoria de Carreras pretendia retirar a obrigatoriedade de pagamento dos direitos autorais dos produtores de eventos e repassar aos intérpretes, gerando prejuízo ao cachê dos artistas. Vale destacar que no mundo inteiro quem paga os direitos autorais são os produtores, não os cantores.


O interesse por política da cantora carioca e a pressão de outros artistas, como Teresa Cristina, Paula Lima, Caetano Veloso e Paula Lavigne, mobilizou os internautas que pressionaram o deputado. No final, ele desistiu da ideia de mudar a regra sobre direitos autorais.


Anitta ainda cobrou medidas a Regina Duarte para reduzir a crise provocada pelo coronavírus, além de criticá-la quando fez declarações a favor do período da Ditadura Militar. Os fãs, em geral, vêm apoiando esse engajamento. Alguns poucos tentam cancelar a artista mais uma vez por buscar se posicionar por ela “não dominar o assunto”

Artistas e influencers, como sugere o termo, são formadores de opinião e devem usar seus espaços, a partir dos seus locais de fala, para incentivar um debate saudável sobre sociedade, política, cultura e outros assuntos. Quem insiste em deslegitimar esse papel social da arte e dos artistas só quer, mais uma vez, impedir o avanço da pluralidade de vozes em um ambiente crítico.


Em janeiro, antes do isolamento social, a cantora Zelia Duncan fez um desabafo necessário nas redes sociais. As palavras de Zelia dialogam bastante com a ideia proposta do Vamos Polemizar? de hoje. Confira:


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A categoria "Vamos Polemizar?" traz assuntos do cotidiano com outras visões e questões. O objetivo é entender melhor alguns sensos comuns dados como verdade por tantas pessoas.

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