Lista: vai ter sapatão em série e filme, sim, e se reclamar vai ter mais
Junho é o mês do orgulho LGBTQI+ e por aqui no Telas Por Elas resolvemos comemorar e pautar nossas listas do mês com a temática. Para começar, vamos tratar da primeira letra (e talvez a mais esquecida) da sigla: Lésbicas. Sim, elas existem. E elas não estão aqui só para serem sexualizadas nas fantasias dos homens heterossexuais. Apesar de suas problemáticas representações no entretenimento, sempre tem aquelas que nos fazem ficar com o coração quentinho. Então, a lista de hoje vai trazer essas personagens - e aproveitar e indicar séries e filmes para ver, né?
Mas antes de partirmos para nossas selecionadas precisamos falar sobre o que é uma boa representação de minorias no entretenimento. Representatividade não é só colocar uma personagem lésbica na sua produção. Até mesmo porque de que adianta colocar as minorias numa série para parecer inclusivo se vai ser apenas para reproduzir um estereótipo? Representatividade mesmo é colocar personagens que são muito mais do que uma caricatura ou de sua sexualidade. Dito isso, vamos às indicações.
Nomi e Amanita em Sense8
É óbvio que as primeiras dessa lista seriam o casal lésbico mais bem representado e inclusivo de uma das séries mais inclusivas já feitas. Em Sense8, Nomi (Jamie Clayton) é uma mulher trans branca lésbica que vive um relacionamento com Amanita (Freema Agyeman), uma mulher cis preta lésbica. Nenhuma das duas esconde sua luta, identidade ou sexualidade, mas suas personalidades e importâncias para a trama vão muito além disso. Fora que fica claro para qualquer um o quanto uma é apaixonada pela outra e sempre se apoiam.
Stef e Lena em The Fosters
The Fosters é aquele tipo de série da ABC para ver quando você não quer nada sério ou pesado e que os adolescentes amam - o que torna essa produção muito importante. A história gira em torno da família Foster, que é formada pelas mães Stef (Teri Polo) e Lena (Sherri Saum) e pelos seus filhos adotivos Mariana, Jesus, Callie e Jude - e Brandon, que é filho biológico de Stef. Ao longo das cinco temporadas, podemos ver mais do casamento de Stef e Lena, com seus momentos felizes e suas brigas também, que são iguais às de qualquer relação hétero. Passar isso para um público composto majoritariamente por adolescentes é muito importante.
Elena em One Day At A Time
Saindo um pouco das mulheres adultas, One Day At A Time traz uma personagem lésbica feminista latina e militante adolescente. Ainda na primeira temporada vivemos o drama de Elena em se assumir para a família. O medo, a incerteza e a insegurança são retratados com leveza pela série e as reações da família foram reais. Alguns aceitaram bem, outros tiveram mais dificuldade e teve quem não aceitou também. Porque é assim: complexo, difícil e acolhedor também. Elena é uma boa representante para as adolescentes que ainda não conseguiram se assumir para a família e irei defendê-la até o fim.
Kena e Ziki em Rafiki
Rafiki é um drama queniano que fez história em Cannes e foi proibido no próprio país. A história gira em torno de Kena (Samantha Mugatsia) e Ziki (Sheila Munyiva), filhas de famílias em disputa política que acabam se apaixonando e vivendo uma história de amor complexa e difícil dado ao contexto homofóbico em que vivem. A representação dessa relação é tão sincera e delicada que encanta e envolve todo mundo. Rafiki quer dizer “amiga” e, segundo a diretora Wanuri Kahiu, é assim que as jovens lésbicas no Quênia se descrevem para evitar o termo “namorada”. O filme foi o primeiro longa queniano a fazer parte da programação oficial do festival de Cannes e foi proibido no próprio país por “temática homossexual e clara intenção em promover o lesbianismo”. Só nos resta ver.
Carol em Carol
Gosto de filmes que trazem personagens lésbicas em épocas diferentes da atual porque, se hoje ainda é difícil, não consigo nem imaginar em tempos anteriores. O filme Carol se passa na década de 1950 e mostra de maneira delicada o flerte e o envolvimento entre duas mulheres. Carol (Cate Blanchett) é uma mulher mais velha passando pelo processo de um divórcio e se encanta por Therese (Rooney Mara), uma jovem que vive um relacionamento com um homem, mas não sabe muito bem como vê sua vida. Apesar de não ficar claro se as duas são lésbicas ou bissexuais, tenho por mim que Carol é lésbica pela própria narrativa.
Poussey em Orange Is The New Black
Orange Is The New Black traz uma diversidade de mulheres de diferentes idades, cores e sexualidades. Mas a personagem que mais gosto é, de longe, Poussey Washington (Samira Wiley) - que é também uma das favoritas do público de maneira geral. Ela é uma personagem preta lésbica (interpretada por uma atriz lésbica) que com o decorrer das temporadas se mostra mais e mais complexa e ganha o protagonismo que merece. E vemos muito mais que só as relações amorosas de Poussey, vemos a complexidade e a intensidade com suas amizades e sua família.
Sam e Rose em Hearts Beat Loud
Hearts Beat Loud é um filme de romance desses para ver quando a gente quer uma história leve sem focar tanto no romance - apesar dele estar ali. O filme trata da relação entre um pai viúvo e sua filha Sam (Kiersey Clemons) que está prestes a ir para a faculdade do outro lado do país. Enquanto aproveita as últimas semanas em Nova York, Sam se envolve com Rose e vivem um romance delicado e sincero que deixa a gente com gosto de “quero mais”. Ambas são pretas e lésbicas, mas a história não levanta essas bandeiras e foca no sentimento de companheirismo das duas.
Arizona em Grey’s Anatomy
E eu não podia deixar de fora da lista quem carrega o título de personagem lésbica por mais tempo na história da televisão: Arizona (Jessica Capshaw) esteve presente em 228 episódios de Grey’s Anatomy. No drama complexo de Shonda Rhimes, a sexualidade de Arizona só vem à tona nos seus envolvimentos amorosos. Fora isso, ela é uma personagem complexa e que vive seus dramas como qualquer outra pessoa na série.
Essas são só algumas personagens lésbicas que amamos e acompanhamos em séries e filmes que gostamos - e que não problematizamos. Fiquei feliz de não ter precisado de muito esforço para juntar e organizar essa lista porque acredito que significa que as lésbicas têm aparecido mais no mundo do entretenimento sem serem estereotipadas. Mas ainda temos um longo caminho pela frente para desconstruir e incluir uma representatividade de dar orgulho. E, quem sabe, as próximas gerações de meninas lésbicas podem crescer se vendo mais na TV.
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Listas semanais com dicas selecionadas sobre filmes, séries, músicas, livros e peças teatrais. É nessa categoria que você descobre sugestões do que assistir nas plataformas de streaming ou o que fazer em um dia atoa em casa.
Ninguém é obrigado a engolir o que é desnatural. É só não assistir e pronto.