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Taburóloga | Afinal, existe isso de pele perfeita?

Tenho, no mínimo, 2654785 questões com o meu corpo. Me acho alta demais, odeio saber que todas as calças vão ficar pela metade da canela e tenho pavor das olheiras que insistem em ficar no meu rosto mesmo depois de uma boa noite de sono. Mas, dentre todas essas coisas, a que mais fico com vontade de me esconder no meu mundinho e não existir até passar é a acne.



Minha complicada relação com a acne começou logo no início da puberdade. As primeiras espinhas, ainda discretas, não incomodavam a minha rotina de moradora de uma cidade do interior que só se importava que horas ia estar livre dos estudos para ir brincar na rua. Tampouco, foram um problema nos primeiros meses que mudei para a capital mineira.


Na verdade, acho que a primeira vez que realmente me incomodei com uma das espinhas do meu rosto foi quando elas passaram a ser um problema para as pessoas que estavam ao meu redor. Daí começou uma luta de uma pessoa só para descobrir como me livrar disso. Antes de levar o assunto para a minha mãe, eu buscava milhares de receitas caseiras na internet (o que só fazia piorar e aumentar o número de espinhas que surgiam na minha pele).


Embora eu não sofresse de acne severa, cada novo ponto que surgia no meu rosto era motivo de muito choro e desânimo para fazer qualquer coisa. Eu não queria que ninguém na escola me visse assim, que nenhum amigo do curso de teatro ou qualquer outra pessoa da minha idade. Eu odiava me sentir mal por algo que, se colocado em perspectiva, era tão pequeno, mas não tinha jeito. E foi assim que, obviamente, a minha mãe começou a perceber que algo estava me incomodando muito.



O tratamento começou de forma independente com alguns produtos aqui e ali. Algumas máscaras próprias para acne e muitos sabonetes e secativos. Nada adiantava. Depois de alguns dias sumida, ela sempre voltava de maneira pior. Aí a comparação já gritava na minha cabeça. Eu não conseguia aceitar que as meninas da minha sala (ou as que eu acompanhava na internet) tinham a pele perfeita, reluzindo no sol e tudo mais e a minha pele cheia de manchas e espinhas que insistiam em nascer consistentemente.


E foi assim que, aos 15 anos de idade, o uso de anticoncepcional entrou na minha vida. Depois de constatarmos que a minha acne era hormonal – explicação para ela ter surgido justamente no início da puberdade e praticamente junto à minha primeira menstruação. Bem, por longos anos o remédio foi o meu melhor amigo e deixou a minha pele como eu sempre quis.


Eu não sofria com oleosidade em excesso, não precisava pensar em nenhum cravinho no meu nariz ou se uma espinha poderia surgir bem na noite anterior a uma data bem importante para mim. Basicamente eu fiz as pazes com algo que me incomodava porque essa coisa não existia mais. Achei que tinha superado essa fase e, depois que a minha mãe enfrentou um problema de circulação devido ao ac que ela estava tomando, começou a surgir uma vontade em mim de largar esse medicamento.


Eu pensava que já não me incomodaria mais com a acne, que isso era coisa do passado, de uma Jéssica que não tinha a confiança que eu já tinha adquirido próximo aos meus 20 anos. Doce engano. No primeiro sinal de novas espinhas surgindo, minha reação natural foi comprar uma cartela e esperar a minha próxima menstruação para voltar a tomar a pílula diariamente.


Durante todos esses anos eu sentia que estava sozinha, que era só eu. Todo o conteúdo que eu consumia, tudo o que eu vivenciava me dizia que eu era estranha por ter acne e por não conseguir melhorar isso que não com um medicamento. Bem, acontece que a acne, principalmente em adolescentes, é extremamente comum. Dados mostram que cerca de 80% dos adolescentes e 30% dos adultos precisam lidar com ela. Eu, claramente, não estava sozinha e só tinha essa impressão porque as revistas, filmes e holofotes não queriam dar destaque para uma adolescente que tinha espinhas na pele.


Finalmente, no começo da pandemia, isolada com a minha família, eu tentei novamente. Foram longos meses tendo que lidar com as espinhas voltando e aquela insegurança se instalando novamente. Muito, mas muito mesmo, dinheiro gasto em sabonetes, adesivos secativos e produtos de tratamento. Quando, ainda no final de 2020, eu voltei a tomar a pílula aguardando que tudo fosse voltar ao “normal”. Eu só não contava com a astúcia da maskne – novo termo que vem sendo usado para nomear a acne causada pelo uso das máscaras de proteção contra a covid-19.



Atualmente, mesmo com o uso do anticoncepcional e de alguns produtos que me ajudaram muito, ainda surgem uma ou outra espinha do meu rosto. A luta contra as manchas está só no começo e ainda tenho muito chão pela frente para enfrentar no quesito autoestima. Eu já aprendi a controlar melhor, a lidar melhor com toda a situação, mas não posso negar que minha insegurança grita toda vez que eu acordo e percebo que uma nova espinha está à caminho.


De fato, acho que é mais uma mudança mais interna que externa, mas, por incrível que pareça, essa percepção só deixa tudo mais complicado. Enfim, escrever esse texto foi mais como uma forma de colocar para fora uma grande insatisfação que tenho com meu corpo e, se no final você que ainda estiver lendo isso (guerreira) já passou ou está passando por isso, a minha palavra de conforto é: acne é muito mais normal do que você imagina e não vale deixar que algo tão pequeno perto do que o mundo tem a oferecer possa te deixar tão para baixo.


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Já pensou como a vida seria muito mais simples se a gente falasse mais sobre alguns tabus? Esse é um dos objetivos da categoria “Taburóloga”.

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