Resenha: Sucesso no TikTok, "A hipótese do amor" acerta ao expor machismo no meio acadêmico
Quando uma doutora em Neurociência resolve conciliar os escritos acadêmicos com comédias românticas jovem-adultas, o resultado é nada menos que um fenômeno incontestável no TikTok. Pois não há quem entre na rede social de vídeos curtos, no fantástico mundinho dos booktokers, e não se depare com dois cientistas se beijando intensamente no livro de capa azul. "A hipótese do amor" (Arqueiro, 2022), de Ali Hazelwood, chegou conquistando tudo quanto é amante de comédias românticas, enemies to lovers e finais previsivelmente felizes.
Não é preciso estar ativamente no TikTok para perceber como a plataforma vem assumindo um papel importante na formação de opinião, sobretudo entre jovens. Quando o assunto são livros, curiosamente vídeos de 1 minutinho, ou menos, têm sido suficientes para convencer alguém a ler determinada história - o que eu acho incrível, independente de qualquer gênero. Em várias dessas chamadas trends, A hipótese do amor viralizou e essa foi a primeira vez que resolvi ler algo dado o sucesso numa rede social que eu sequer uso.
Na história da Dra. Hazelwood, Olive Smith e Adam Carlsen são do departamento de Biologia da Universidade de Stanford. Olive é aluna do doutorado e Adam já é professor, com um currículo extremamente invejável, mas uma fama péssima entre os alunos. Para ajudar a melhor amiga a iniciar o romance com seu ex-ficante, Olive propõe um namoro de mentirinha com, literalmente, o primeiro que aparece na sua frente. E claro que esse primeiro tinha que ser alguém detestável. Os dois assumem o relacionamento de mentira, uma vez que Adam também tem seus interesses, e não seria spoiler nenhum se eu dissesse que, em algum ponto, as coisas começam a se confundir.
É um plot simples e que não me empolgou de imediato. O que mais me atraiu na história, contudo, foi a trajetória da autora, conhecida por escrever comédias românticas em que as protagonistas são mulheres das áreas de ciências, tecnologia, engenharia e matemática. Quem está na Academia, independente da área, sabe o quanto ela pode ser cruel com todos, mas especialmente com mulheres. É difícil e doloroso olhar para o lado e ver que há poucas como você andando por aqueles espaços, estar sujeita a assédios de qualquer tipo e ouvir, continuamente, comentários machistas. A gente sabe disso, a autora sabe disso e suas protagonistas também.
São coisas que, de início, aparecem na trama de forma muito sutil, mas vão ganhando espaço, tomando forma ao longo das páginas até se tornarem insustentáveis. É uma construção justa e cuidadosa, que leva em conta o amadurecimento das personagens e também do leitor. E no meio disso tudo, tem o romance clichê, como boas doses de alívio, e uma resolução aparentemente simplista dos problemas, mas que nessa ficção funciona e, pelo menos, serve de alerta.
Nota: 4/5
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