top of page
Foto do escritorVictoria Rohan

Representatividade, amizade e drama teen em Blood & Water

Cada vez mais a Netflix tem explorado produções para além de Estados Unidos, Canadá e Inglaterra. E é nessa pegada que Blood & Water foi lançada no último dia 20. A série é a segunda produção original sul-africana do serviço de streaming e traz um drama complexo mascarado de drama teen. Com elenco 100% local e trilha sonora diversa, a série dá uma aula de representatividade e cativa o espectador com o suspense criado. E aí, que tal dar uma chance?

Puleng e Fikile são as principais personagens de Blood & Water. Foto: Divulgação

A história gira em torno de Puleng Khumalo (Ama Qamata), uma adolescente de 16 anos que vive um drama familiar complicado. Sua irmã mais velha, Phumele, desapareceu ainda na maternidade e agora seu pai é acusado de tê-la vendido a uma organização de tráfico de crianças. E as reviravoltas não param por aí: Puleng tem certeza de que Fikile Bhele, estudante da nova escola, é sua irmã desaparecida - e fará de tudo para comprovar. Em meio a tudo isso, é claro, ela ainda tem que lidar com os dramas adolescentes.


Representatividade importa

O mais importante em Blood & Water é, sem dúvidas, a representatividade. Não só pelo elenco quase 100% preto, mas por trazer de cenário a Cidade do Cabo, na África do Sul, e atores locais para compor o elenco. Isso sem falar na trilha sonora, que também traz uma boa quantidade de artistas sul-africanos. Apesar de a maior parte do tempo os diálogos serem em inglês, podemos perceber algumas intervenções na língua nativa - o que achei bem interessante.

Elenco de Blood & Water. Foto: Reprodução

Personagens e histórias em Blood & Water

A atuação foi uma das coisas que mais me chamou atenção na série. Só de ver os personagens em cena já podemos perceber a complexidade de cada história, como as expressões mudam com o decorrer da trama, o jeito de se portar e interagir. Mas admito que senti falta disso em alguns personagens - e não acho que a culpa foi da atuação.


Assim como acontece em algumas novelas, a criação de muitos personagens acaba deixando alguns de lado. Enquanto a evolução de Puleng e Fikile era muito bem trabalhada, Zama era usada pelos roteiristas só como uma fonte de informação sobre Puleng para Chris. Wendy e Tahira também foram subexploradas - e tinham muito potencial para a trama. Isso sem falar em Reece: se teve cinco falas nos seis episódios foi muito e até agora não entendi sua relevância para o desenrolar da história.

Zama e Reece foram personagens subexploradas. Foto: Divulgação


Panssexualidade estereotipada

Já falamos sobre isso aqui no Telas Por Elas e cá estamos nós falando de novo. Blood & Water traz um personagem homem que se afirma como panssexual, o que seria ótimo se não colaborasse com o estereótipo de que bissexuais/panssexuais são pessoas infieis que querem transar com todo mundo. Chris é esse personagem: é conhecido na escola por pegar todo mundo e depois se envolve com Zama e Mark, mantendo relação com cada um até ser descoberto. E eventualmente propõe para Zama que os três sejam trisal, já que ele ama os dois. Eu entendo a intenção, mas não.


Friendzone

Conhecemos bem esse conceito problemático que é muito explorado no entretenimento. Um cara legal, simpático, sensível e prestativo se interessa por uma garota legal, mas que não quer nada com ele e vai atrás de outro. Nossa, que pessoa horrível por não querer se envolver romanticamente com alguém... É essa a relação que criam entre Puleng e Wade. Ele é um cara legal que se interessa por ela e começa a ajudá-la na busca pela irmã. Mas, assim que percebe que ela não tem interesse por ele, resolve se afastar e em certo momento chega a dizer que só queria a companhia dela se fosse romântica. Eu particularmente achei pedante de Wade e um pouco fora de personagem - mas quem sou eu para julgar, né?


O "triângulo" amoroso: Puleng, Wade e KB. Foto: Divulgação

Amizade é tudo

Acho que uma das principais mensagens implícitas de Blood & Water é sobre a importância das amizades. Puleng não conseguiria tudo que conseguiu sem o apoio de Zama, a ajuda de Wade, a companhia de KB e, até mesmo, a aproximação com Fikile. A própria Fikile poderia ter mais amizades sinceras, já que fica claro que seu comportamento autodestrutivo em alguns momentos poderiam ser atenuados por um ombro amigo honesto. Ninguém consegue nada sozinho, por mais que se apresente como um lobo solitário. E acho que isso é um pouco do que Blood & Water mostrou.

Zama e Puleng são melhores amigas. Foto: Divulgação

De maneira geral, essa é uma série intrigante e bem feita. Os seis episódios de aproximadamente 45 minutos não prolongam dramas desnecessários nem enrolam para dar desfecho aos acontecimentos secundários. Apesar dos pontos negativos que me incomodaram, Blood & Water me envolveu a ponto de ver quase tudo em um único dia e estar no aguardo da confirmação da segunda temporada. Se você quer uma série para passar o tempo com uma trama envolvente, Blood & Water é a produção para você.


____

Quer saber nossas impressões sobre diversas obras das mulheres na cultura? Cinema, música, literatura, teatro e muito mais. Tudo isso, duas vezes por semana, na categoria 'Crítica'.

Commentaires


bottom of page