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Foto do escritorLuísa Silveira

Quatro fatos sobre a comunidade surda que aprendemos com “O Som do Silêncio”

Neste sábado (24), comemoramos o Dia Nacional da Libras. Apesar da data especial, a comunidade surda está longe de ser completamente inserida na sociedade. Por isso, hoje vamos falar sobre um indicado especial à categoria de Melhor Filme no Oscar: "O Som do Silêncio" (2020), original da Amazon Prime.


A premiação, que acontece no próximo domingo (25), deu grande destaque para o longa, que marcou presença também nas categorias de Melhor Ator com Riz Ahmed, Melhor Ator Coadjuvante com Paul Raci, Melhor Roteiro Original, Melhor Mixagem de Som e Melhor Edição. E não é para menos: a história sensível fala sobre Ruben Stone (Riz Ahmed), um jovem baterista que toca em uma banda de metal com sua namorada Lou (Olivia Cooke) que, rapidamente, começa a ter a audição deteriorada.

Ruben começa a perder sua audição | Foto: Amazon Prime Video / Divulgação

Em diálogos com médicos, é possível entender que a exposição constante a barulhos altos foi definitivo para prejudicar a audição do rapaz, porém, parece ser algo que já o acompanhava, entretanto sem demonstrar sinais até aquele momento. Sua namorada o apoia e, em ligações, encontra um local que auxilia pessoas que tem alguma perda auditiva, liderado por Joe (Paul Raci). Apesar da resistência, após um ataque de ansiedade e raiva, Ruben decide dar uma chance à comunidade.


A partir daí, há uma grande mudança no filme e podemos nos inserir em cada passo dessa adaptação sofrida, porém, extremamente significativa.


Comunidade surda no Brasil e no mundo


O objetivo do texto é falar sobre o que aprendemos sobre a comunidade surda com "O Som do Silêncio", porém é impossível fazer isso sem um panorama geral que mostra a falta de inserção de surdos e surdas em todo o mundo.


Dados do IBGE, de 2020, mostram que, só no Brasil, mais de 10 milhões de pessoas tem algum problema auditivo - dessas, quase 3 milhões não escutam nada. No contexto global, levando em conta que muitas pessoas sofrem com perda auditiva quando ficam mais velhas, a OMS tem a previsão de que, até 2050, 900 milhões de indivíduos serão parcial ou totalmente surdos. Com esses números impressionantes em mente, pare para pensar: quantas propagandas ou programas televisivos apresentam tradução para libras no Brasil?


E, das poucas que conseguimos ver, quais janelas de libras (tela em que o intérprete permanece) é grande o suficiente para permitir a visualização plena dos movimentos e expressões faciais - pontos essenciais para o entendimento da língua - do tradutor? Além disso, legendas em português não são suficientes, já que há surdos que não são totalmente familiarizados com o idioma, tendo como língua principal a libras.


É fácil perceber a exclusão que mais de 10 milhões de pessoas em nosso país enfrentam, certo? Por isso, para além de contar a história de um filme marcante e extremamente sensível, vamos pensar no que conseguimos aprender sobre a comunidade surda em "O Som do Silêncio" - muitos fatos que, para quem não é surdo, podem passar completamente despercebidos no dia a dia.

Existem várias línguas de sinais pelo mundo - até pelo Brasil | Foto: Amazon Prime Video / Divulgação

1) A língua de sinais é diversa

Muitas pessoas podem pensar que a língua de sinais é universal, mas isso não é verdade. Assim como o Brasil tem como língua oficial o português e os Estados Unidos o inglês, as línguas de sinais também variam. Outra questão importante: afirmar que os brasileiros só falam português é errado, certo? Já que existem várias outras línguas e dialetos pelo país. O mesmo se dá com a comunidade surda. Apesar da Língua Brasileira de Sinais (Libras) ser a mais utilizada, há também a Língua de Sinais Kaapor Brasileira, adotada principalmente pelos indígenas.


Então, se você possui alguma noção de Libras, é possível que tenha identificado alguns sinais do filme - afinal, como qualquer idioma, há semelhantes - entretanto, durante todo o longa, os personagens utilizam a American Sign Language (ASL), uma língua própria dos surdos estadunidenses.


2) Existem formas específicas de iniciar uma conversa


Quando uma pessoa quer chamar atenção de um ouvinte, pode optar pelos clássicos "Oi", "Ei", "Fulanx" etc. Esse não é o caso com pessoas surdas - mas como iniciar um diálogo com alguém surdo que, no momento, ainda não fez contato visual com você? Em "O Som do Silêncio" conhecemos um artifício muito usado pelo grupo do filme: bater na mesa. A vibração é um sinal de que sua atenção é requerida. Além disso, a ação de fazer determinado objeto vibrar é utilizado bastante pelos personagens, inclusive em uma cena bem legal entre Ruben e um menino mais novo.


Outra estratégia, caso a pessoa não esteja próxima suficiente, pode ser apagar rapidamente as luzes. Mas, no geral, encostar levemente no ombro das pessoas, assim como muitos ouvintes fazem, dá conta do recado também.

Joe é responsável por batizar Ruben | Foto: Amazon Prime Video / Divulgação

3) Batismo próprio na língua


Outro momento muito interessante no filme é quando Ruben é batizado. A cena é bem rápida, mas bem relevante. O que acontece é que você pode soletrar seu nome - técnica usada na hora de se apresentar - porém, para ficar mais prático no dia a dia, é possível ter um sinal para te representar, que será o seu nome na língua de sinais, que normalmente leva em conta alguma característica física sua. Essa parte representa uma grande virada na narrativa de Ruben e, realmente, poderia ter tido mais destaque.


Outro ponto importante é que esse batismo deve acontecer por uma pessoa surda - ou seja, surdos e ouvintes podem ter sinais específicos, mas quem denomina as opções possíveis de sinais são os surdos.


4) Nem todos querem ouvir


Esse próximo tópico contém spoiler. Se preferir, pode pular.


Muitos ouvintes podem pensar que todos os surdos querem, necessariamente, ouvir. Isso não é verdade. No caso de Ruben, no primeiro momento, o jovem planeja juntar dinheiro para poder realizar a cirurgia de implante e, assim, recuperar sua audição. Mas, por ser um alto investimento (Viva o SUS!), é um processo demorado. Ruben vai se adaptando a nova realidade e realmente descobrindo seu lugar na comunidade surda.


Entretanto, ao ver um vídeo de sua namorada - com quem cortou contato para se focar na adaptação, como era pedido pelo grupo - todos os sentimentos de "exclusão" da sociedade retomam. Assim, Ruben finalmente realiza a cirurgia, porém, é convidado a se retirar da comunidade de Joe - já que, segundo o líder, o intuito do local é compreender as especificidades de ser surdo e não ter vergonha. Outra cena muito marcante e que, a partir daí, é só tiro no coração.


Ou seja, surdos aprendem a se comunicar e viver dessa forma e não necessariamente desejam ouvir. O que a comunidade quer, apenas, é um mundo que os inclua completamente - da forma que merecem. Não é tão difícil de entender, né?


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