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Outubro rosa: o que falam as sobreviventes de câncer de mama?

Por Luísa Silveira e Vanessa Barcellos


O seio é muito mais do um órgão de cunho sexual. Tampouco tem como sua funcionalidade principal nutrir a vida de bebês recém nascidos. A mama faz parte do corpo, tanto feminino quanto masculino. E é nesse órgão que se dá um dos cânceres mais comuns de todo o mundo - o câncer de mama.


Em 2018, foram mais de dois milhões de novos casos descobertos - a maioria em mulheres. Só no Brasil, o número chegava a quase 67 mil na mesma época. É difícil você não conhecer, mesmo que de longe, alguém que teve o câncer - seja uma sobrevivente ou, infelizmente, mais uma vida perdida para a doença. De acordo com a OMS, são mais de 400 mil mortes todo o ano.


Não à toa, temos um mês para falar desse tipo tão perverso, mas tão comum, de câncer. O Outubro Rosa é uma iniciativa internacional, da qual o Brasil participa há 16 anos. Nesse período, empresas e instituições relembram a importância de se precaver contra a doença - para isso, há o autoexame de toque, ultrassom de mama e mamografia - que deve ser feita uma vez ao ano, para mulheres acima de 40 anos.



Diagnosticar o câncer precocemente aumenta as chances de sobrevivência em até 90%. E nunca foi tão importante falar sobre isso. Segundo o Ministério da Saúde, a pandemia teve um forte impacto no número dos exames de rotinas realizados. Por exemplo, os números de mamografias no SUS caíram 47%, o que significa uma redução de quase um milhão de procedimentos, comparado ao ano passado.


Precisamos falar do Outubro Rosa. Precisamos nos proteger e desmistificar a ideia de que é uma doença que só se dá em mulheres mais velhas. A maioria das vítimas são mulheres acima dos 45 anos, mas isso não exclui diversos casos de homens e crianças diagnosticadas.


Por isso, para encerrar esse mês tão essencial, vamos falar um pouco sobre o câncer de mama. Como é o autoexame, quais os sintomas, como é o tratamento e - mais importante - o que dizem as mulheres que sobreviveram?


O autoexame


Um toque pode de fato mudar sua vida. Primeiro porque ele possibilita que a gente descubra a doença logo no começo, e como já vimos no texto, as chances de cura e de um tratamento menos invasivo são maiores. E segundo porque através dele você promove um momento de autocuidado, de analisar cada cantinho do seu corpo e de se conhecer de uma forma que você talvez nunca tenha feito antes.


“De vez em quando eu dava uma olhadinha, mas nada assim que fosse rotineiro. Depois que passamos por uma situação dessa, tudo muda” - Joana Ribeiro


O autoexame das mamas surgiu em 1950 nos Estados Unidos como estratégia para diminuir os tumores das mamas em fase avançada. Com o passar do tempo, perceberam que esse ato não diminuía a taxa de mortalidade da doença. A partir de então, diversos países passaram a adotar a breast awareness, que significa estar consciente sobre a saúde das mamas. Essa estratégia de conscientização ressalta a importância do diagnóstico precoce. Além de orientar a população sobre as mudanças das mamas em diferentes momentos da vida e os principais sinais suspeitos de câncer.


Se toca, mulher! | Foto: Pinterest

Mas afinal, como posso fazer o autoexame?


Por mais que muitas pessoas considerem algo complicado ou difícil de ser feito, o autoexame das mamas é bem simples e rápido. A orientação é que se observe e apalpe as mamas sempre que se sentir confortável: seja na hora do banho, no momento de troca de roupa ou em outra situação do cotidiano. O autoexame pode ser feito em pé, de frente para o espelho ou ainda deitada.


Em pé:

  • Levante o braço esquerdo e o apoie na cabeça.

  • Estique a mão direita para examinar a mama esquerda.

  • Sinta a mama e faça movimentos circulares, de cima para baixo.

  • Faça o mesmo do outro lado.

Em frente ao espelho:

  • Observe os dois seios. Primeiramente com os braços caídos pelo corpo.

  • Coloque as mão na cintura e faça força. Observe se há alguma anormalidade na forma comum das mamas.

  • Coloque as mãos atrás da cabeça e observe o tamanho, posição e forma do mamilo.

  • Com leveza, pressione levemente o mamilo e verifique se não há saída de nenhuma secreção.

Deitada:

  • Molhe uma toalha e dobre-a sob o ombro direito.

  • Examine a mama direita com movimentos circulares e faça uma leve pressão.

  • Apalpe a metade externa da mama.

  • Logo após isso, apalpe as axilas.

  • Faça o mesmo com a mama esquerda.


Atenção aos sinais!


É recomendado que o autoexame seja feito uma vez no mês, sendo após o sétimo dia depois o término da menstruação. Já em caso de mulheres que já alcançaram a menopausa, o dia pode ser escolhido de forma aleatória. O autoexame possibilita um olhar cuidadoso para o nosso corpo, e através disso, conseguimos detectar a presença de alguns sinais. Por meio dessa estratégia, acontece a educação da mulher para o reconhecimento dos sintomas suspeitos de câncer de mama.

Fique sempre atento aos sinais! | Imagem: FreePik

Atenção aos sinais:

  • Secreção escura

  • Pele enrugada

  • Inchaço e vermelhidão

  • Nódulos aparentes

  • Ferida na mama.

Fiz o autoexame e notei algo diferente nas minhas mamas, qual o próximo passo? Bom, o próximo passo é procurar um ginecologista ou ainda, se possível, um oncologista. A partir da consulta com o profissional você irá receber todas as orientações, pedidos de exames e o diagnóstico.


O câncer de mama é causado por alterações genéticas, diretamente relacionadas à biologia celular. A doença pode ser estimulada por alguns fatores como: o tabagismo, uso de hormônios (TRH – terapia de reposição hormonal por tempo prolongado), obesidade, fumo, alcoolismo, início da menstruação em idade muito jovem e menopausa tardia. Um dos fatores que também pode influenciar é a presença de casos de câncer de mama na família, por isso, conhecer o histórico familiar ajuda bastante na busca por qualidade de vida e saúde. Além disso, é mais frequente em determinados grupos étnicos como, por exemplo, as mulheres brancas, caucasianas.


“O Outubro Rosa é importantíssimo! As pessoas tem que fazer a prevenção - não custa nada" - Rita Ferreira


É importante ressaltar que o autoexame precisa ser feito regularmente. Tanto para as mulheres que já foram diagnosticadas com câncer, quanto para as que não possuem a doença. Joana Ribeiro, esteticista que enfrentou a doença em 2013, antes de descobrir o câncer na mama, não tinha costume de fazer o autoexame com frequência. Depois, passou a dar mais atenção para esse ato. Regularmente ela dedica um tempo para observar não somente as mamas, como também o seu corpo todo.


“Eu não fazia o autoexame com frequência. De vez em quando eu dava uma olhadinha, mas nada assim que fosse rotineiro. Depois que passamos por uma situação dessa, tudo muda. Quem passa por isso não quer passar novamente. Então tudo a gente examina, qualquer coisa diferente no nosso corpo, a gente já fica assustado. Depois do câncer eu passei a ter mais atenção e passei a fazer o autoexame com mais frequência”, diz Joana, hoje com 59 anos.


O autoconhecimento é chave | Foto: Pinterest

Quando Rita Ferreira, contadora de 56 anos, descobriu o câncer de mama, havia um pouco mais de seis meses que tinha feito a sua ultrassonografia anual das mamas. “Em abril de 2014, eu percebi uns nódulos na minha mama direita e, por isso, voltei na minha médica. Ela indiciou um outro ultrassom, que deu um sinal da doença. Fui me consultar com um mastologista - um excelente médico, me deu toda atenção, me explicou tudo. Fiz a biópsia e era, de fato, um nódulo bem pequenininho”, afirma.


Como é o tratamento do câncer de mama?


Assim como todo câncer, o caminho a ser seguido pelo tratamento irá depender da fase em que a doença está. Isso pode variar entre o estágio 0 e 4. Nos três primeiros, o tumor está limitado na região da mama. No estágio três, há a presença de nódulos distantes, mas ainda na mama. No quarto, que é o mais grave, o câncer de mama já se espalhou para outros órgãos - ou seja, há metástase.


Portanto, o tratamento pode ser local - cirurgia ou radioterapia - ou sistêmico, no qual todo o corpo é atingido. Ali entram quimioterapia, hormonioterapia e tratamento com anticorpos. Em casos iniciais, opta-se apenas pelas medidas do tipo local. Já quando o câncer está avançado, é possível que seja necessário um tratamento sistêmico, combinado com medidas locais.


“Aí ele me falou ‘você tem a opção de tirar só essa parte ou tirar a mama total’. Aí pensei ‘tira a mama toda’” - Rita Ferreira


E, sem dúvidas, uma das soluções mais conhecidas é a cirurgia para remoção parcial ou total da mama - adotada em cerca de 70% dos casos. Foi por isso que passou Rita Ferreira. "O médico me falou 'você tem a opção de tirar só essa parte ou tirar a mama total'. Aí pensei 'tira a mama toda'. Fiz a cirurgia em junho de 2014", lembra. Nem sempre é um processo fácil e muitas mulheres sofrem com sua retirada. Há um verdadeiro baque na autoestima de várias pessoas, sem contar que é uma cirurgia complexa.


Além da mama, o tratamento de câncer pode ainda tirar outra fonte intrínseca da feminilidade padrão: o cabelo. Joana, por exemplo, perdeu os fios quando foi submetida à quimioterapia. "Quando meu cabelo começou a cair, eu já quis cortar tudo. Pra mim era mais doloroso levantar e olhar no travesseiro tufos de cabelo, tomar banho e ver o cabelo caindo. Então, eu preferi logo raspar a cabeça. Depois eu usei meus lencinhos e lidei bem", lembra a esteticista.

Joana com um de seus lencinhos, em 2013 | Foto: Acervo Pessoal

"Pra mim era mais doloroso levantar e ver o cabelo caindo" - Joana Ribeiro


A quimioterapia é um tratamento extremamente invasivo e difícil. A queda de cabelo costuma vir acompanhada de enjoos, vômitos, tonturas, fraquezas, perda de apetite e mudança de humor. Por isso, quando dizemos que as sobreviventes de câncer são guerreiras - é sério. E Joana, além de sua família, teve apoio de outro personagem muito importante nessa batalha: O SUS.


Desde o começo, Ribeiro foi acompanhada por médicos do sistema de saúde. "Fiz a cirurgia no tempo certo e, em seguida, já consegui o oncologista, no tempo ideal para cuidar da doença. Depois da quimioterapia que demorou um pouco mais, porque não tinha vaga para a radioterapia. Mas eu persisti! Fiquei toda hora ligando e consegui também. O meu tratamento pelo SUS foi excelente!", afirma.


Ao todo, Joana contou com ajuda de nutricionistas, mastologistas, psicólogos, ginecologistas e oncologistas. Antes do câncer, Ribeiro sabia da importância do sistema, mas não compreendia, de fato, sua magnitude. "Eu usava o básico sabe? Não tinha muita noção do que era ou como funcionava o SUS", lembra.


Porque o Outubro Rosa é importante?


Como vimos, o Outubro Rosa nasceu da necessidade e da importância da conscientização pela prevenção do diagnóstico precoce do câncer de mama. Esse diagnóstico precoce acontece através da ida regular a médicos, por meio de exames como mamografia e também do autoexame com o toque.

O Outubro é Rosa e o ano todo também! | Foto: Agora Sou Mãe

“Através do Outubro Rosa estão sendo salvas muitas vidas!” - Joana Ribeiro


Para mulheres como Rita e Joana, a chegada do mês de Outubro não promove apenas a conscientização, mas também desperta a lembrança de uma das grandes vitórias que tiveram em suas vidas. As duas, mesmo tão diferentes, dividem além do diagnóstico a opinião sobre a fitinha rosa no mês de Outubro.


“O Outubro Rosa pra mim é muito importante porque vai conscientizar as mulheres. Não só as mulheres né? Os homens também têm câncer de mama. O Outubro Rosa conscientiza as pessoas a estarem atentas ao próprio corpo, a fazer o autoexame e todos os exames necessários para que nós possamos ter um cuidado com a saúde. Através do Outubro Rosa estão sendo salvas muitas vidas!”, diz Joana Ribeiro


Rita, que também não fazia o autoexame com tanta frequência, a acompanha no coro. “O Outubro Rosa é importantíssimo! As pessoas têm que fazer a prevenção - não custa nada. É um auto exame simples, que você apalpa, analisa e qualquer anormalidade que sentir - veja logo. Porque de início você combate, faz o tratamento e fica bem. E eu estou aqui hoje para poder contar como foi o ocorrido. Hoje, graças a Deus, estou bem”, afirma.


“E eu estou aqui hoje para poder contar como foi o ocorrido. Hoje, graças a Deus, estou bem” - Rita Ferreira


É claro que a luta e a conscientização precisa permanecer durante todo o ano, mas termos um mês exclusivo para relembrar mulheres e homens sobre o tema, é de suma importância! A campanha do Outubro Rosa é uma iniciativa com objetivo de compartilhar informações sobre o câncer de mama. É uma campanha de tantas Joanas e Ritas mundo afora. É uma campanha de Bias, Jessicas, Luísas, Vanessas e Victorias. É uma campanha de todas nós! A conscientização começa em você!


“Eu tento sempre conscientizar as pessoas. Eu falo com as minhas filhas, minhas sobrinhas, amigas e clientes. Eu vivo falando! Eu to sempre tentando conscientizar pra que elas não passem pela mesma situação que eu passei e se vier acontecer, que seja descoberto cedo e fique mais fácil de ter um bom resultado no tratamento. Mas o conselho que dou pra todas é: se cuidem e façam o autoexame sempre que possível!”, conclui Joana Ribeiro


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