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Foto do escritorVictoria Rohan

Artista, mas abusador: o caso de Roman Polanski (e companhia)

Você provavelmente já ouviu aquele típico elogio para artista abusador: “o cara faz umas coisas erradas, mas é genial”. É assim que as Academias das grandes premiações do mundo do entretenimento se posicionam. “É preciso separar o homem do artista e da arte”, dizem. É possível? Como explicamos para Samantha Geimer (e outras dezenas de mulheres) que todo o sofrimento e abuso que sofreu nas mãos de Roman Polanski não afetou a vida profissional dele? É com essa reflexão que o “Vamos polemizar?” de hoje contextualiza o caso de Polanski e os recentes protestos feministas na França e te convida a refletir sobre esse debate.


Cartazes na porta do cinema que estreou o mais recente filme de Roman Polanski na França. Foto: Divulgação O Globo.

Quem é Roman Polanski?

O diretor Roman Polanski. Foto: Reprodução Getty Images.

Ele é o diretor, produtor e roteirista por trás de filmes como O Bebê de Rosemary (1968), Chinatown (1974) e O Pianista (2002). Sua história também tem um histórico criminal: ele foi preso em 1977 por ter abusado sexualmente de Samantha Geimer, que tinha apenas 13 anos de idade na época do acontecido.





O que rolou?

Segundo Samantha, Polanski a convidou para fazer uma sessão fotográfica para a revista Vogue e, com o desenvolver das fotos, ele a ofereceu álcool, uma medicação sedativa e a estuprou. O diretor foi a julgamento acusado de cinco crimes: estupro sob uso de drogas, perversão, sodomia, ação lasciva em uma criança de menos de 14 anos e fornecer substância controlada a um menor. Mas, em um acordo, ele se declarou culpado de ter relações sexuais ilegais com uma menor de idade e teria de cumprir pena. Só que pouco antes de sua reavaliação, Polanski fugiu para a França (país que não tem acordo de extradição com os EUA) e mora lá desde então. Sim, Roman Polanski estuprou uma menina de 13 anos e, sim, continua fazendo filmes e recebendo prêmios por eles.


E por que essa história voltou à tona agora?

Bem, tem mais de um motivo. Recentemente a ex-atriz e modelo francesa Valentine Monnier contou que foi estuprada e agredida por Roman Polanski em 1975. Ela disse que, na época, tinha acabado de completar 18 anos e, após esquiar com o diretor na Suíça, ele a bateu e a estuprou. Além disso, dias antes dessa revelação, a atriz Adèle Haenel (Retrato de uma jovem em chamas) acusou o cineasta Christophe Ruggia de tê-la assediado sexualmente quando ela tinha 15 anos. Assim, Adèle foi a primeira atriz de destaque na França a acusar abusos na indústria cinematográfica.

Cartazes nas ruas de Paris: "Se Polanski tivesse violado sua filha de 13 anos, você separaria o homem do artista?". Foto: Reprodução

E os protestos?

Apesar de décadas (literalmente) cheias de denúncias contra Roman Polanski, a carreira do diretor parece não ter sido abalada. Os filmes continuam a todo vapor e os prêmios também, tanto que foi indicado ao César (o Oscar francês) de melhor diretor em 2020. As mulheres francesas, atiçadas pelas denúncias recentes, não gostaram nem um pouco e tomaram as ruas. A revolta tomou a cerimônia também: além de várias alfinetadas ao longo da noite, Adèle Haenel e a equipe do seu filme se retiraram do local após o anúncio de que Polanski ia levar o prêmio.



Pois, então, é possível separar o artista da arte? E, sendo possível, deveríamos separá-los? O quanto do homem (e do abusador) está presente na obra? Não é curioso que o último filme do Polanski trate de um militar falsamente acusado e condenado à deportação? O quão difícil deve ser para as vítimas terem suas vidas expostas e reviradas por uma denúncia que tão logo é esquecida pelo público - que segue a ovacionar os ídolos? Até quando a “genialidade” e a camaradagem vão apagar os abusos cometidos? Até quando vamos apoiar e premiar abusadores?

Essas reflexões não dizem respeito apenas aos grandões de Hollywood, não. Vale lembrar que artista abusador tem em todo nível e lugar. O seu amigo músico que assediou uma garota entra no mesmo debate. Ou aquele seu conhecido fotógrafo que vive oferecendo ensaio nu para as meninas. Ou aquele artista faz-tudo-genial que só pega menor de idade. Não adianta se indignar e boicotar o Polanski se vai continuar passando pano na cena local. A hora de deixar machista seguir impune já passou. #TimesUp.


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A categoria "Vamos Polemizar?" traz assuntos do cotidiano com outras visões e questões. O objetivo é entender melhor alguns sensos comuns dados como verdade por tantas pessoas.

Tem alguma ideia de tema? Envie sua sugestão para o telasporelas@gmail.com

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