Morando em São Gonçalo você sabe como é...
"Não fiquei nem cinco segundos na cabine, mas foi tempo suficiente para refletir sobre um mundo, um país e uma cidade mais humana, coletiva e empática. Que rumo quero dar a minha cidade nos próximos quatro anos?"
Já dizia Seu Jorge, "morando em São Gonçalo você sabe como é. Hoje à tarde a ponte engarrafou e eu fiquei a pé". Na verdade, eu nunca entendi o sentido da ponte Rio-Niterói engarrafar e alguém ficar a pé nela, afinal, nem se pode caminhar por lá. É proibido!
Deve ser a tal da famosa licença poética, aquela que os artistas usam pra deixar o mundo do jeitinho que eles imaginam ou como a gente gostaria que fosse. Vou pedir licença aos poetas e usá-la também no lugar de fala de um cidadão que está festejando a democracia.
Hoje, no segundo turno das eleições municipais, é um bom momento para colocar isso em prática, além de exercitar um olhar mais positivo e até poético sobre a nossa própria cidade. Sei que a realidade de São Gonçalo é muito parecida — e diferente ao mesmo tempo — com a zona oeste do Rio, com a baixada fluminense e tantas regiões. Seria incrível poder enxergá-las com aspectos positivos ao longo de todo o ano.
Acordei e logo fui votar. Pelo caminho, a famosa — e proibida — boca de urna, pessoas sem máscaras, jogo no campo de futebol e churrasco no barzinho para curtir o solzão deste domingo. Se alguém me contasse que a Covid-19 resolveu ir embora da cidade, eu acreditaria. Pena que não é o que mostram os números dos leitos ocupados nos hospitais.
Cheguei à seção eleitoral exatamente às 10h04, "oi, bom dia", álcool em gel, e-Título, "assina aqui" e "pode votar". Não fiquei nem cinco segundos na cabine, mas foi tempo suficiente para refletir sobre um mundo, um país e uma cidade mais humana, coletiva e empática. Que rumo quero dar a minha cidade nos próximos quatro anos?
Mais educação para que as crianças da educação básica cresçam e possam realizar seus sonhos; mais infraestrutura para os profissionais da saúde nos postos dos bairros e que tratam a Dona Maria; mais investimento em cultura em uma cidade que não tem teatro nem biblioteca; mais áreas de lazer para que as crianças possam ser crianças e não caiam nas “garras” do tráfico presente em vários bairros; mais segurança para ir e vir, sem o comando de grupos paralelos como as milícias, que investem em candidaturas que trocam favores, dentaduras e asfaltos de rua para assumir o poder… Caramba, a lista é enorme!
Será se pedir livros no lugar de armas é muito utópico? Prefiro acreditar que não! Afinal, morando em São Gonçalo — e em diversas outras cidades do país — você sabe como é… A esperança segue equilibrista na busca de que o amanhã seja mais bonito que o hoje.
Leia também: Ainda há poesia em exercer a cidadania?
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As crônicas são textos não jornalísticos, para falar de manias, da vida, de amores... E todas as outras coisas do coração.
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