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Mana do Mês de julho: Phoebe Waller-Bridge

Por Luísa Silveira e Victoria Rohan


Em algum momento de 2019, você provavelmente ouviu falar de Phoebe Waller-Bridge. Se não reconhece esse nome, vou fazer mais um teste: as séries Fleabag e Killing Eve te remetem a algo? Provavelmente sim, já que foram algumas das produções visuais mais bem sucedidas da TV no ano passado. Pois é, ambas autoria de Phoebe.


Não à toa, o Emmy de 2019 só deu ela. Esses seus dois trabalhos mais recentes renderam 16 indicações. A segunda temporada de Fleabag, série que é criada, escrita e protagonizada por Waller-Bridge levou quatro prêmios: melhor roteiro, direção, atriz principal e série de comédia. Não é pouca coisa mesmo. E a partir de então, seu nome foi oficialmente consolidado não só em Hollywood, como em todo o mundo.

Phoebe casualmente bebendo e fumando com seus quatro Emmys. Foto: Reprodução

Mas quem está por trás do nome imponente da canceriana e aniversariante do mês? Phoebe Waller-Bridge, além de ser claramente uma multitalentos, escrevendo, produzindo e atuando em diversas plataformas, é também uma pessoa incrível, como é fácil de perceber. Vamos aproveitar que, em 14 de julho, ela completa 35 anos para homenageá-la como nossa Mana do Mês!


Começo da vida

Como falamos aqui, Phoebe nasceu em 14 de julho de 1985, em Londres. Em uma breve pesquisa, é possível achar que seus parentes - tanto paternos quanto maternos - foram membros importantes do parlamento britânico no século XIX.


Mas a família Waller-Bridge em nada representa a formalidade de um típico político inglês. Seus dois irmãos, Isobel e Jasper, também seguiram a carreira das artes, todos sempre muito apoiados pelos pais. Ao passo que ambos foram para música, Phoebe, a irmã do meio, foi para o teatro.

Os Waller-Bridge: Isobel, Jasper e Phoebe | Foto: The Times

Sua vida escolar foi marcada por colégios privados, sendo um, inclusive, católico. Na faculdade, a atriz conseguiu passar para Inglês em uma renomada universidade em Dublin, mas preferiu seguir o que achava ser sua vocação e se formou em atuação na Royal Academy of Dramatic Art, em Londres.


Companhia de teatro

Após formada, a vida profissional não seguiu os melhores rumos possíveis. Ao se deparar com desemprego e poucas oportunidades de trabalho decentes, Phoebe se juntou com uma de suas melhores amigas, Vicky Jones (que também já escreveu episódios de Killing Eve), para abrir sua própria companhia de teatro.

Vicky e Phoebe são melhores amigas e colegas de trabalho há anos. Foto: Reprodução

E assim surgiu o DryWhite em 2007, que atualmente está no London’s Soho Theatre e tem em cartaz peças como "Mydidae" (do escritor de "Harry Potter and the Cursed Child") e a própria Fleabag, já que a série foi baseada no roteiro dramatúrgico de Phoebe.


A personagem, que rendeu prêmios e reconhecimento para a artista, nasceu em um improviso. Durante um festival de Storytelling em Londres, pediram para que ela montasse, na hora, uma apresentação de dez minutos. Segundo Waller-Bridge, foi aí que surgiu a ideia. “Eu me senti ousada e o que veio foi uma menina, que é bizarramente honesta sobre sua vida sexual”, disse em entrevista para o The Gentlewoman.


E, apesar de parecer despretensiosa e naturalmente talentosa, seus personagens são muito bem pensados e carregam em si características que os tornam únicos, honestos e inesquecíveis.


Má feminista?

As personagens femininas das histórias de Phoebe são, geralmente, complexas e controversas - o que talvez seja o principal motivo de tanto sucesso. Parece bobo, mas ter uma mulher jovem escrevendo sobre os conflitos internos que uma mulher tem que lidar nos dias atuais é empoderador e traz novas nuances para o entretenimento. Estamos tão acostumadas com histórias e personagens escritas por homens (e focadas neles) que, quando chegam as personagens de Phoebe, a identificação é instantânea. Sou eu ali. É minha amiga. É sua irmã. É você.


E, para mim, o mais incrível é como o feminismo está intrínseco nessas histórias. Claro, amamos aquelas séries lacradoras com discursos e diálogos empoderadores. Mas Phoebe leva isso a outro patamar. Suas produções são feministas sem precisar dizer explicitamente “ei, sou feminista”. Suas personagens são fortes e sabem o que querem, mas também têm de lidar com questões internas e inseguranças como todas nós. E, sim, questionam o próprio feminismo. Quem nunca se perguntou “será que estou sendo uma péssima feminista?” que atire a primeira pedra.


"Às vezes penso que eu talvez não seria tão feminista se tivesse peitos maiores", diz Fleabag em uma cena icônica da série. Foto: Reprodução

Phoebe tem ela mesma esses questionamentos. Muitas mulheres - e provavelmente alguns homens também - sentem que podem cair numa armadilha de serem más feministas, que seria alguém que não cumpre todos os requisitos do que é considerado ser uma feminista perfeita”, disse em uma entrevista. Isso foi a coisa mais sincera e assustadora de colocar para o mundo. Eu estou fazendo isso certo? Vou colocar que ela preferiria tirar anos da vida dela para ter um corpo sexy e todo esse tipo de coisa que você não deveria dizer? Eu acho que foi, para mim. Mas também foi como eu me senti na época. Eu quero fazer isso [feminismo] certo, mas eu também tenho péssimos pensamentos ou faço coisas que parecem não se alinhar com a mensagem”. E tá tudo bem não ser a porta-voz do feminismo o tempo todo.


Sexualidade sem tabus

Outro ponto em comum das produções de Phoebe é como a sexualidade é tratada de forma complexa e sem tabus. Leia-se aqui sexualidade tanto o espectro da atração sexual como a própria vida sexual. Suas personagens femininas gostam de sexo e não têm vergonha disso. O envolvimento amoroso pode ser complicado, mas o sexo não. Elas transam e ponto.


Uma curiosidade impossível de não ser notada também é que suas personagens mais famosas são bissexuais assumidas: Fleabag (de Fleabag) e Villanelle (de Killing Eve). E, assim como com o feminismo, esse não é um traço da personalidade delas e nunca foi preciso levantar uma bandeira explicitamente para entendermos. Elas são bissexuais. Mas são mais que só isso.

Jodie Colmer (Villanelle) e Phoebe em premiação. Foto: Reprodução

Acredito que parte disso possa vir da própria experiência de vida de Phoebe. Em entrevista ao NPR, ela contou que quis, por um bom tempo de sua infância, ser um menino - e inclusive pedia para ser chamada de Alex. Muitas amigas minhas gostavam de vestidos, bonecas e esses tipos de coisas. Mas não era isso que eu queria. E, na época, parecia que eu tinha que escolher um ou outro. Então eu só queria ser um menino”. Seus pais não pareciam se importar e “eram ‘viva e deixa viver’. E eu era muito, muito feliz sendo uma garota vestida de menino desde que eu pudesse me expressar daquela maneira e pudesse mudar meu nome. E eles ficavam: tudo bem, o que te fizer feliz”.


É uma mulher com esse talento, genialidade e carisma que queremos homenagear no mês de julho aqui no Telas Por Elas. Phoebe Waller-Bridge está fazendo história no mundo do entretenimento e só podemos agradecer por estarmos vivas para presenciar. Na parte dois desse texto vamos falar mais sobre as produções de Phoebe que você não pode deixar de ver.


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'Mana do mês' é a personalidade feminina influente escolhida para ser homenageada pelo Telas. Todo mês uma mulher importante e relevante é selecionada para contarmos sua história e legado

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