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Foto do escritorFilipe Pavão

Crítica: "Era Uma Vez Para Nunca Mais" desconstrói os contos de fadas tradicionais

Se você gosta de romance, comédia e musical, "Era Uma Vez... Para Nunca Mais" é uma série ideal para você. A produção original Netflix, que chegou ao catalogo da plataforma na semana passada, usa a simbologia e a estética do conto de fadas para reinventá-lo ou, no mínimo, tentar modernizá-lo.


Além disso, com toques de ironia, a história protagonizada por Sebatian Yatra, Monica Maranillo e Nia Correa aborda temas sociais e tabus, marca do criador mexicano Manolo Caro, que já lançou séries como a comédia ácida "A Casa das Flores" e a minissérie sombria "Alguém Tem Que Morrer".

Sebatian Yatra, Monica Maranillo, Nia Correa e elenco de "Érase una vez... pero ya no"
Sebatian Yatra, Monica Maranillo, Nia Correa e elenco de "Érase una vez... pero ya no" │ Foto: Netflix

Na história, dois amantes - uma princesa rica e um pescador pobre - se separam inesperadamente na Idade Média quando o homem apaixonado vai para a guerra. A esperança, agora, é a que eles se encontrem em uma vida futura e possam livrar o pequeno povoado de um feitiço - se eles não voltam a se encontrar e não libertam um dragão azul no lago, ninguém do local vai ser apaixonar.


Já na atualidade, Maxi (Yatra) acredita ser a reencarnação do pescador e procura a sua princesa para liberar o feitiço da cidade, enquanto Goya (Monica), sua melhor amiga e ativista, não acredita no conto e tenta liberar o dragão por questões ambientais.


A mãe de Maxi, Mamen (Rossy de Palma), tem um hotel no povoado, que usa a história do conto para receber turistas e tirar seu sustento. Até que dois turistas - Juana (Nia) e Antonio (Asier Etxeandia) - chegam à cidade e podem comprometer a oportunidade que os eternos apaixonados têm de quebrar a maldição.

Monica Maranillo e Itziar Castro │ Foto: Netflix
Monica Maranillo e Itziar Castro │ Foto: Netflix

Desconstrução envolvente


A série é o tipo de produção para ver de uma vez só. Com apenas seis episódios de curta duração, em torno de 30 minutos, você não sente o tempo passar. Ao descontruir estereótipos e visão romantizada do que é o amor, comum nos contos de fadas, a série também prende o espectador, que quer saber qual será a próxima novidade deste conto moderno.


Isso se deve também aos personagens serem extremamente carismáticos, principalmente a mãe de Maxi, a mãe de Goya, Lola (Mariana Treviño), e a guia turística, Candela (Itziar Castro). As três movimentam o hotel e se envolvem em situações divertidas. A chilena Daniela Vega também se destaca no papel de Enamora, uma bruxa que reencarna em uma famosa cantora.

Os diálogos também são interessantes, apesar de nada complexos. Eles são responsáveis por trazer tabus à tona, como linguagem neutra, masturbação feminina, masculinidade frágil, dores em relação ao amor e liberdade sexual. Você já imaginou um "príncipe" prostituto e que usa roupas apertadas, incluindo cropped? "Era Uma Vez... Para Nunca Mais" traz um.

Nia Correa │ Foto: Netflix
Nia Correa │ Foto: Netflix

Muita música


A série ser protagonizada por Sebastian Yatra, Monica Maranillo e Nia Correa não é à toa. Os três são cantores, sendo o colombiano Yatra, que já gravou com Simone e Simaria, e Nia artistas com extensa carreira musical autoral. Mas os demais atores também soltam a voz durante a série.


A verdade é que a primeira série musical espanhola da Netflix traz muitas canções, com o esperado, claro. Traz canções originais ou releituras, mostrando parte da cultura espanhola e latino-americana, algo que já é comum no trabalho de Manolo Caro. Até música da mexicana Julieta Venegas marca presença na soundtrack.


A original "Erase Una Vez... Pero Ya No" está disponível nas plataformas de música e ganhou um videoclipe, o qual mostra aa atmosfera da produção espanhola. Confira:

--- cuidado, spoiler ---


Desfecho diferente, mas nem tanto


A principal característica da série é descontruir os contos de fadas e, claro, que o desfecho também iria trazer uma nova característica. Maxi e Goya, amigos de infância, são as reencarnações do pescador e da princesa. Eles se amam como amigos, não como apaixonados. Por isso, não ficam juntos como um casal.


Assim como nos contos de fadas, todo mundo termina feliz, exceto o vilão, claro. O festivo é desfeito porque Maxi e Goya devolvem juntos o dragão ao rio, e ele encerra a história com Juana, turista de quem se apaixonou, superando o vilão Antônio, a reencenação do amigo traíra Froílan.


Ah, e no final, a série acaba em uma grande dança no salão do hotel da cidade. Afinal, é um conto de fadas, moderno, mas é!



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