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Foto do escritorFilipe Pavão

Entrevista: Thami usa a música para propor transformações

Cria de Nilópolis, na Baixada Fluminense, Thami teve o primeiro contato com a música na Igreja, ainda criança. Mas acabou seguindo pelo caminho da dança. Apenas em 2018 ela "virou a chave" e passou a se enxergar como cantora.


Na última semana, Thami lançou "Hoje Eu Quero", faixa que mescla a sonoridade pop com o suingue do R&B. A música fala sobre um date organizado por uma mulher decidida e livre.


A música é feita para dançar. Não à toa foi cantada pela primeira vez no Baile da Thami, projeto da artista que que tem o objetivo de dar visibilidade e criar espaço para artistas pretos independentes da cena musical brasileira.


Além disso, no início deste ano, ela já havia lançado seu primeiro EP, chamado "Nua", que teve participação da rapper Tássia Reis.


Em entrevista ao Telas Por Elas, a artista fluminense fala da mensagem que passa no novo lançamento e como usa a música para propor transformações.



"Hoje eu quero" fala sobre um date organizado por uma mulher decidida e livre. Como nasceu a letra? Vem de uma experiência real?


Essa letra veio de uma conversa que tive com uma amiga, onde ela falava da dificuldade de ingressar num relacionamento. Ela dizia que por ser autêntica e tomar as iniciativas, os homens ficavam assustados e acabavam não dando continuidade na relação.


Fiquei reflexiva sobre aquela conversa, me perguntando qual o problema de uma mulher chamar um cara pra sair, de dizer o que sente e o que quer? Às vezes somos tachadas de arrogantes, agressivas, simplesmente por nos posicionarmos... Isso tem que acabar. Já passou da hora.


Por conta dessa conversa, resolvi escrever sobre um date organizado por uma mulher, ela já sabe onde, quando, como quer o encontro, fala na cara e sem medo de ser feliz. A música ficou com um astral ótimo, divertida, para cima, alto astral, como tem que ser!


E o que quer a Thami?


Eu quero oportunidade! Quero acesso, quero poder cantar sobre minha liberdade e a liberdade de tantas outras mulheres, quero poder falar de amor sem medo, sem restrição... Quero poder inspirar outras pessoas.


Quero ocupar espaços que são meus e que, por muito tempo, me fizeram acreditar que não era. Parece muita coisa, mas, na verdade, isso é só o básico. Eu quero o básico.


Além da letra, o ritmo e a melodia são importantes na construção de um hit. Como você chegou nessa pegada pop suingada com influências do R&B?


Eu recebi esse beat do Theo zagrae, que também produziu a faixa. A gente estava com o #BailedaThami programado e eu queria trazer algo novo pro meu público. Pensei, esse beat tem tudo a ver, por que não? Então, conversei com o Theo de lançarmos a música no baile e ele abraçou a ideia também. Foi tudo!


A música tem características que já são minhas, eu gosto de misturar o pop com R&B, gosto dessa pegada dançada, mas com uma melodia mais swingada. Eu ouço muitos artistas, como Bruno Mars, Lianne la Havas, Ella Mai… Então, não tem como não trazer essas referências para dentro do meu som.



O "Baile da Thami" tem o objetivo dar visibilidade e criar espaço para artistas pretos independentes da cena musical brasileira. Como mulher preta e da Baixada, como reflete sobre as dificuldades impostas pelas desigualdades no mercado e na sociedade?


É muito desafiador. A cada dia tenho mais certeza que as pessoas não querem saber de artistas, querem saber se você é famoso, se tem milhões de seguidores. Cada vez menos as pessoas se interessam pela sua arte, pelo som que você faz. Mas coloquei uma coisa na minha cabeça em 2018 e trago sempre comigo: desistir não faz parte do processo. Então, se eu não encontro acesso, eu vou fazer o meu acesso. Foi assim que nasceu o #BailedaThami.


Eu via a necessidade de cantar e fazer o meu show, com meu repertório autoral, mas não vi oportunidade, então, criei a minha oportunidade. E tenho focado em artistas como eu, que ralam muito e muitas vezes estão sozinhos.


Quero poder ter espaço para mim e trazer quantas pessoas puder comigo. O meio musical é muito vasto, tem lugar pra todo mundo. A gente só precisa aprender a somar, a olhar para o outro e entender que podemos seguir na mesma estrada sem precisar passar por cima de ninguém! A estrada é larga e dá pra andar um do lado do outro.


Sua relação com a música vem desde a infância, verdade? Quando percebeu que poderia cantar?


Eu cantei na igreja desde criança, mas só em 2018 que virei a chave pra música.


Fui bailarina e sapateadora desde nova, então, fiquei muito focada na dança. Foi fazendo teatro musical que tive meu primeiro contato profissional com a música e, a partir dali, não consegui largar.


Percebi que estar no palco cantando unia tudo que eu tinha de mais especial. Consigo trazer a dança na minha movimentação corporal, na minha presença de palco, e consigo colocar emoção na minha voz, imprimir meus sentimentos nas minhas letras. Eu realmente me encontrei na música.


O lançamento de NUA, que tem participação de Tassia Reis, está super recente também. Como foi o processo de criação do EP? E como tem sido o feedback?


Nua é meu primeiro EP e o meu maior objetivo era me despir de dentro para fora, colocar todo meu sentimento em forma de música, minhas vivências. Foi realmente uma imersão musical. Foram 6 meses de preparo e produção para fazer as 4 faixas.

Tassia entrou em "Chega de Esperar", uma música que fala sobre nossa força e autenticidade. A faixa tem tudo a ver com a Tassia, uma mulher forte e decidida. Além de ser uma música pra cima e dançante também.


Fizemos a primeira performance ao vivo no baile e foi incrível dividir o palco com ela.





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