Dia do Orgulho: por que forçar alguém a sair do armário não é legal?
Sair do armário é um processo um tanto difícil. Compreender quem você é, aceitar a si mesmo, poder confiar minimamente em uma rede de apoio, não saber se a família vai aceitar e, ainda, como o mundo ao redor vai reagir... São muitas variantes não controláveis e basta apenas uma para todo o processo se tornar traumático. Agora imagina se no meio desse caminho você se vê forçado a sair do armário sem ainda ter completado sua jornada pessoal ou sem ter certeza de que vai ter uma boa recepção de família e amigos? É sobre isso que vamos falar nesse Dia do Orgulho de 2021.
O caso de Lucas Rangel
Recentemente esse assunto veio à tona com o influenciador Lucas Rangel. Para quem não sabe, Lucas ficou famoso na internet lá atrás com a falecida rede social do Vine (descanse em paz) e, desde então, se tornou uma celebridade com a vida pública. Neste último Dia dos Namorados (12) ele causou um burburinho na internet ao assumir o namoro de 7 meses com Lucas Bley — e, consequentemente, assumir sua sexualidade. A questão é que ele adiantou o anúncio porque perfis de fofoca estavam compartilhando essa informação sem o consentimento dele.
Como explicaram em um vídeo no YouTube, os dois já pretendiam assumir o namoro em um futuro recente, mas ainda tentavam manter a relação em sigilo — Bley é mais tímido e reservado. Porém eles foram flagrados e expostos por perfis de fofoca em uma viagem a dois e preferiram que os fãs ficassem sabendo por eles e não por terceiros. E, assim, fica aquele questionamento: por que forçar alguém a sair do armário não é legal?
Por que não é legal?
Bom, basicamente porque você vai estar se metendo em um assunto e uma jornada que não te pertence e não te diz respeito (rs). Eu — e todos os membros da comunidade LGBTQIA+ e aliados — sei da importância que é ter pessoas públicas (ou não) assumindo sua sexualidade e levantando uma bandeira para chamar de sua. É muito importante! Isso faz com que outras pessoas se compreendam melhor, se sintam representadas e, até mesmo, mais confortáveis e possivelmente acolhidas. Afinal, como sempre falamos por aqui, representatividade importa.
Mas a questão é que cada pessoa tem ritmo, história, família e amigos diferentes. Não é porque Gil do Vigor teve uma mãe receptiva com a sexualidade do filho que todas as mães vão ser iguais. Lucas Penteado foi bem acolhido na internet ao assumir sua bissexualidade no Big Brother, mas na casa não foi bem assim e o ator foi alvo de inúmeros comentários bifóbicos. Cada pessoa tem uma história e um background diferentes que, obviamente, vão tornar cada processo de saída do armário único.
Às vezes, morar com a família e não saber qual será a reação também complica (e muito) a situação. Segundo último levantamento do Grupo Gay da Bahia, a cada 26 horas um LGBTQIA+ brasileiro morre por homicídio ou suicídio, o que faz do nosso país o campeão mundial de crimes contra as minorias sexuais. Um terço das mortes violentas, principalmente de gays e lésbicas, aconteceram na casa das próprias vítimas. Vocês têm noção disso?
E ninguém é menos LGBTQIA+ porque não se assumiu para amigos, família e/ou sociedade, ok? Cada existência é única e válida em sua complexidade e totalidade. Se você diz que é uma mulher lésbica, você é. Não deixe ninguém te diminuir por qualquer motivo que seja. Sua trajetória é sua e apenas sua. Da mesma forma, se você é a pessoa que fica espalhando pros outros que Fulano é gay ou Ciclana é bissexual ou qualquer coisa do tipo sem que a pessoa tenha se assumido abertamente ainda, saiba que você não é uma pessoa tão legal e aliada assim.
Então, como ajudar no processo?
Primeiramente, o mais importante é: mostrar apoio. Se faça presente, mostre que não vai haver julgamentos de sua parte e que nada vai mudar para você — afinal, nada deveria mudar, né? Se a pessoa não se mostrar confortável, evite fazer muitas perguntas, mas, caso ela esteja aberta a falar sobre, ouça. Pode ter certeza de que uma rede de apoio estável faz muita diferença. Não à toa a comunidade LGBTQIA+ tem o conceito de “família escolhida”, que consiste na rede de amigos que servem como uma base familiar quando a biológica se faz ausente.
Leia, acompanhe e siga pessoas LGBTQIA+. Consuma seus conteúdos. Entenda o seu papel como aliado ou mesmo como membro não-tóxico da comunidade (rs). Se alguém falar para você é bissexual, por exemplo, não pergunte “com quantos homens e mulheres você já ficou?”. Que tal só oferecer seu apoio?
Leia também: Playlist sem culpa! (Versão LGBTQIA+)
Falando em apoio, existem algumas ONGs que abrigam e acolhem pessoas LGBTQIA+ que foram expulsas de casa ou só realmente não têm onde morar. Fizemos uma listinha com algumas para você seguir nas redes sociais ou, até mesmo, se voluntariar.
E, mais uma vez, é importante lembrar que nem todo processo de se assumir pros amigos, família e conhecidos é doloroso. Às vezes acaba sendo mais fácil e leve do que imaginávamos. Nossa intenção aqui é só fazer você entender que tá tudo bem não sair do armário se você não estiver confortável para isso. Sua existência (e resistência) é tão válida quanto qualquer outra.
ONGs de apoio LGBTQIA+ no Rio de Janeiro
CasaNem (@casanem_)
Grupo Diversidade Niterói (@grupodiversidadeniteroigdn)
EternamenteSOU (@eternamente.sou)
Grupo Arco-Íris (@grupo_arco_iris)
ONGs de apoio LGBTQIA+ em São Paulo
Casa1 (@casa1)
Casa Florescer (@casaflorescer1)
Casa Chama (@casachama_org)
_____ A categoria "Vamos Polemizar?" traz assuntos do cotidiano com outras visões e questões. O objetivo é entender melhor alguns sensos comuns dados como verdade por tantas pessoas.
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