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Foto do escritorJéssica Riquena

Crítica: O terror romantizado de A Maldição da Mansão Bly

“Até aonde você iria por amor?” Essa foi a pergunta que ficou na minha cabeça quando terminei de assistir o seriado A Maldição da Mansão Bly. Lançada na última sexta-feira (09), a nova produção da Netflix é uma espécie de sequência da aclamada A Maldição da Residência Hill (2018) – que eu, particularmente, acho a melhor peça audiovisual de terror dos últimos anos.


Ambas foram dirigidas por Mike Flanagan – que atuou na mesma função no famoso Hush: A Morte Ouve (2016) – e falam sobre casas mal assombradas e conflitos familiares de uma forma única. E as semelhanças não param por aí. O elenco principal de Mansão Bly tem nomes como Victoria Pedretti (Dani Clayton), Oliver Jackson-Cohen (Peter Quint), Henry Thomas (Henry Wingrave), Kate Siegel (Viola Lloyd) e Carla Gugino (A narradora), que também fazem parte do núcleo central de Residência Hill.


Dito isso, é preciso que vocês entendam que é quase impossível não comparar as duas séries. E o meu ponto aqui nem é dizer qual é melhor ou pior (visto que eu quero que todas as pessoas do mundo assistam aos dois seriados), mas, sim, mostrar como as diferenças entre as duas criam experiências e pensamentos diferentes. Então, vamos lá?



Aviso: olha, eu juro que eu tentei, mas foi impossível fazer essa crítica sem spoilers. Então, se você ainda não viu a série ou se está vendo agora, eu sugiro que você guarde esse texto para ler depois. Você vai me agradecer por isso ;)


A busca pelo “plot” perfeito


É meio estranho, mas eu quis começar falando sobre os finais das séries porque para mim são o que elas têm de melhor. O plot twist perfeito. Meio ousado falar assim, né? Mas é a mais pura verdade. Sabe aquele filme que você assiste uma, duas, três, dez, vinte vezes e parece que todas as vezes você descobre ou entende algo novo? Pra mim, uma das causas desse sentimento pode ser um bom (e bem construído) plot twist. Se você não está familiarizado com o termo aqui vai uma definição:


Plot Twist é uma mudança radical na direção esperada ou prevista da narrativa de um romance, filme, série de televisão, quadrinho, jogo eletrônico ou outra obra narrativa.

Então, basicamente, o plot é esse momento em que tudo se encaixa. Que você finalmente entende todas aquelas pontas soltas e vê a história finalmente ganhando forma. E assim como todos os efeitos no cinema, esse também pode ser bem ou mal utilizado. Para nossa sorte, as duas temporadas do seriado utilizam esse efeito de forma bem inteligente e entregam um desfecho que nos convence.



Então, quando vemos sequência como essas no GIF acima, em que toda a trama de Residência Hill é repassada bem na nossa frente, dá aquela sensação de que o roteiro é bem feito, sem pontos abertos. O mesmo acontece em Mansão Bly. Quando finalmente descobrimos que a Hanna Grose (T'nia Miller) sempre esteve morta ou no final da série ao sermos apresentados à história da Viola Lloyd, Lady de Bly e tudo começa a fazer sentido, principalmente, o ar romantizado presente em todo o seriado.


O terror romantizado em Mansão Bly


Talvez nesse tópico você vai entender mais o que a primeira frase desse texto significa. Se Mansão Bly tem um assunto central, esse assunto é o amor. Tudo na série se baseia nisso e você vai desvendando essa charada ao longo de cada episódio.


Quando a série começa você não sabe bem aonde a história da nova babá das crianças, Dani Clayton, vai dar. A gente sabe que ela tem algo mal resolvido e que sempre que se olha no espelho vê a imagem de um homem com os olhos iluminados encarando ela. Mas o que isso tem a ver com a série e qual o motivo dessa cena nós só descobrimos no quinto episódio.


Um flashback revela o passado de Dani. Noiva do seu melhor amigo de infância, ela era mais próxima da família dele do que a dela própria e, durante todos os anos de amizade, namoro e noivado, ela viveu uma vida que não era a sua. A verdade é que Dani é lésbica. E, tudo isso é mostrado de forma bem sutil nos episódios anteriores. Sua aproximação com Jamie (Amelia Eve), a jardineira da mansão e seu desinteresse em Owen (Rahul Kohli), o cozinheiro.



Mas então o que seria aquela imagem que Dani sempre vê refletida e que começa a ganhar mais e mais espaço depois de uma chegada em Bly? Seu ex-noivo que morreu depois de uma discussão em que Dani contava para ele sua orientação sexual e terminava o noivado pouco tempo antes do casamento. A partir desse momento trágico, Dani começa a ver o momento da morte dele repetidas e repetidas vezes, como se ela fosse a culpada e tivesse que carregar esse fardo por onde fosse. Cobrir os espelhos e evitar pensar nesse momento faz parte da sua rotina e é por isso que ela foge para Londres e se candidata a vaga de babá dos órfãos Wingrave.


Mesmo com esses sinais sobre a temática principal da série, a minha chave só virou quando foi mostrada a história da “Lady in the Lake”, vulgo, Viola Lloyd. Proprietária das terras, Viola adoeceu logo após ter sua primeira filha e teve que ver os seus primeiros anos de longe. Essa situação desata no seu assassinato, cometido pela própria irmã. O que ela não esperava era ficar presa no baú de heranças que deixou para a sua filha dias antes de morrer, fazendo com que ela nutrisse a esperança de ver sua pequena mais uma vez. Anos mais tarde, vivendo em uma crise financeira severa, Perdita, a irmã de Viola, decide abrir o baú e, com isso, desencadeia uma maldição sobre a imponente Mansão Bly.



O amor entre irmãs, o amor em um relacionamento afetivo, o amor materno. Tudo isso esteve presente no momento de criação da maldição que aprisionou durante anos todos os que morriam na mansão a vagar por aquelas terras sem poder vislumbrar o mundo. Esse é o motivo do jovem casal Peter e Rebecca, ambos mortos na propriedade, procurarem uma maneira de seguir seus planos de mudança para os Estados Unidos e, para isso, eles precisam de duas peças fundamentais, Flora (Amelie Bea Smith) e Miles (Benjamin Evan Ainsworth).


As crianças no controle (mais uma vez)


Filmes de terror com crianças sempre são um clichê. Elas vêem os espíritos, elas são os alvos, elas causam o terror. Mas, tanto em Residência Hill como em Mansão Bly, essa não é a realidade. Enquanto na primeira temporada as crianças se tornam uma extensão da casa e de tudo o que aconteceu nela no período em que moravam lá, a segunda temporada traz Flora e Miles Wingrave como peças centrais nos acontecimentos macabros que cercam a Bly.



Órfãos depois da morte precoce de seus pais em uma viagem à Índia, os dois se veem cada vez mais próximos da maldição que cerca a casa. Entretanto, diferente do que podíamos esperar, os irmãos estão mais preocupados em usar esse conhecimento para salvar as pessoas vivas que ainda moram na residência. Não há susto. Eles já estão habituados a ver e conviver com todos os residentes da mansão.


Entretanto, a situação muda de cenário quando eles não são eles. O plano de Peter e Rebecca depende das crianças para funcionar. Basicamente, o casal oferece aos órfãos a possibilidade de encontrar e viver com os seus pais enquanto eles ocupam o corpo deles para poderem fugir daquela mansão, quebrando assim a maldição para os dois. Pode parecer um pouco clichê, mas as crianças estão cientes disso. Elas sabem quando serão “possuídas” e desejam encontrar os seus pais tanto quanto desejam proteger quem mora na mansão.



Por isso que em momentos como a morte de Hannah, empurrada no poço por Miles enquanto era Peter ou os diálogos de Flora com Dani enquanto era Rebecca são tão estranhos à primeira vista. A gente simplesmente não reconhece esses personagens e este é o verdadeiro motivo.


As diferentes intensidades


Talvez você não fique tão assustado vendo A Maldição da Mansão Bly. Eu não fiquei na maior parte do tempo e olha que me considero muito medrosa. A intensidade é o que mais difere a segunda da primeira temporada. Em A Maldição da Residência Hill eu me vi chorando, assustada, com medo, feliz e apavorada de uma só vez. A série te leva a isso, os acontecimentos extrapolam completamente a linearidade.


Mansão Bly não é assim. É óbvio que existem os famosos jumpscares, você vai se sentir incomodada com a caracterização dos personagens e eles podem aparecer nos seus sonhos algumas vezes. Mas a série não é sobre eles. Definitivamente não. O seriado é sobre o amor. E, assim como o sentimento, às vezes ele pode ser tranquilo, às vezes assustador, medonho, mas sempre algo que esteja envolvido por essa temática, sempre algo que pareça familiar de alguma forma.


Minha recomendação? Se você ainda não assistiu nenhuma das temporadas comece por Mansão Bly e depois siga para Residência Hill. Agora se você já assistiu a primeira temporada, me pergunto o porquê de ainda não ter assistido a nova.


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Quer saber nossas impressões sobre diversas obras das mulheres na cultura? Cinema, música, literatura, teatro e muito mais. Tudo isso, duas vezes por semana, na categoria “Crítica”.

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