Crítica: "Eurovision" é um besteirol que tem a música como ponto positivo
A edição 2021 do Oscar está se aproximando e o Telas Por Elas segue a todo vapor com as críticas das produções indicadas, sobretudo, as que estão disponíveis nas plataformas de streaming como "Festival Eurovision da Canção: A Saga de Sigrit e Lars", lançada pela Netflix em 2020. Mais um besteirol para o currículo de Will Ferrel, que começa fraco, mas vai ganhando intensidade ao longo das duas horas de produção. Tem como ponto forte a música, que permeia toda a narrativa da história.
A história parte da relação entre os amigos Lars (Ferrel) e Sigrit (Rachel McAdams), que se conhecem desde muito crianças e compartilham o sonho de se apresentar no Eurovision, o principal festival de música da Europa. Lars cresce e vira um homem de meia idade abobalhado, que é zombado pelo pai e pela pequena ilha que vive, Húsavík, na Islândia. Já Sigrit se torna uma bela mulher e professora primária, que é vista com boas características por toda a comunidade.

Após uma série de episódios improváveis e de muita sorte, a dupla pop Fire Saga consegue a tão sonhada vaga para representar a Islândia no festival europeu. É a partir da ida dos personagens ao festival, que o longa ganha mais fôlego. Até então, o foco em Lars atrapalha o andamento do filme, pois o personagem de meia idade totalmente paspalhão não tem carisma algum.
Durante o festival, alguns elementos tornam a comédia mais agradável, como o maior foco em Sigrit e a chegada de novos personagens, ou melhor, a entrada dos "rivais" da Fire Saga na competição musical. Um deles é o cantor russo Alexander Lemtov (Dan Stevens), que esconde sua homossexualidade por conta da homofobia do governo do seu país.
É nesse segundo momento do filme que é possível entender, de fato, o porquê dele ser classificado como uma comédia dramática - com muitos toques musicais, que são ótimos, por sinal. Traz momentos bem divertidos apesar de nada críveis e dramas interessantes, que permitem reflexões sobre a vida real de forma leve, ou seja, faz rir e emocionar.
Sátira ou homenagem?
O filme percorre uma linha tênue entre uma homenagem de fã e uma sátira cômica com o Eurovision. Talvez seja para conquistar tanto os europeus, que esperam o ano inteiro pela competição musical, como os americanos, que não possuem vínculos muito fortes com a história do festival. Esse é um ponto positivo do roteiro que levou mais de 20 anos para ser produzido.
Escrita pelo próprio Will Ferrel, a história foi pensada ainda na década de 90 quando o ator foi a Suécia, terra natal da sua esposa, e se apaixonou pela magnitude do festival que, por ironia do destino e do agravamento da pandemia, não foi veiculado no ano de lançamento do longa. "Festival Eurovision da Canção: A Saga de Sigrit e Lars" virou um presente para os admiradores órfãos do festival no ano passado.
Melhor Música
O filme cravou uma indicação ao Oscar 2021 na categoria Melhor Canção Original, com "Húsavík", de Rickard Göransson e Savan Kotecha. No filme, Ferrell e a potente cantora pop sueca Molly Sandén (dublada pela atriz McAdams) dão voz a faixa que sintetiza o que comédias dramáticas clichês sabem fazer de melhor: mostrar que, sim, você pode atingir os seus sonhos e seus objetivos.
Apesar de não ser favorito ao prêmio, a indicação é justa. É o pano de fundo musical no festival e a trilha sonora que dão gás na história. E "Húsavik", apresentada duas vezes na história, é a melhor de todas. A última cena dentro do festival, que pode ser vista a seguir, é espetacular.
Boas participações especiais
Se a música e o clima em torno do festival são o ponto forte do longa, as participações especiais de artistas que já passaram pelo Eurovision só acrescentam positivamente. A melhor cena do filme, inclusive, é um pout porri de Lars e Sigrit com alguns deles, como a austríaca Conchita Wurst, a israelita Netta, a sueca Loreen e outros artistas cantando Madonna, Cher, Abba, Celine Dion e The Black Eyed Peas.
Quem também faz uma breve participação e perfomando em sua língua materna é o cantor português Salvador Sobral com a belíssima música "Amar Pelos Dois", que foi apresentada no Eurovision 2017. Além dele, Demi Lovato interpreta uma talentosa cantora islandesa, concorrente da dupla Fire Siga na seleção local.
Afinal, vale a pena assistir?
"Festival Eurovision da Canção: A Saga de Sigrit e Lars" começa fraco, mas evolui. A explosão de um barco com correntes do duo ou um dialogo inteiro sobre o tamanho do pênis de um concorrente são cenas toscas, mas os dilemas criados em torno da convivência deles trazem pontos interesses sobre as relações de amigos e amorosas, principalmente quando eles se separam temporariamente.
Sim, o filme é brega, cafona, ou como você quiser chamar, mas apresenta bons momentos e vai agradar bastante quem gosta de comédias e festivais, em especial, o Eurovision, que é um fenômeno na Europa e tem fãs pelo mundo graças a internet. E talvez todo festival de música seja um pouco brega, assim como os que fizeram sucesso na era de ouro brasileira na década de 60. Então, qual é o problema do filme ser assim? Nenhum!
É um besteirol que passa mensagens bonitas sobre cumplicidade, olhar para quem está ao nosso lado, como lidar com nossos fracassos e a busca pelos nossos sonhos.

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