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Crítica: “A Voz Suprema do Blues” é marcado por atuações brilhantes

A Voz Suprema do Blues (2020) foi um filme que surpreendeu a todos desde o seu anúncio. O original Netflix foi oficialmente divulgado em 30 de setembro de 2020, pouco mais de um mês após o falecimento do ator Chadwick Boseman, responsável por interpretar Levee no filme.


Para muitos fãs e admiradores, o longa se tornou uma oportunidade de ver o último trabalho feito pelo ator que lutava contra um câncer de cólon desde 2016. E toda a ansiedade foi recompensada! De forma genial, Chadwick entregou um personagem complexo e cheio de nuances que te faz ir do amor ao ódio em questão de segundos. Por esse motivo, talvez, o filme rendeu a Boseman a primeira indicação póstuma de um ator não-branco a categoria de Melhor Ator em 93 anos de Oscar.


O longa faz parte do projeto do ator Denzel Washington para produzir e adaptar todas peças do dramaturgo August Wilson (1945 - 2005). A primeira produção, Um Limite Entre Nós (2016), também recebeu diversas indicações ao Oscar e rendeu, inclusive, o prêmio de Melhor Atriz Coadjuvante para Viola Davis (que também está no segundo filme dessa empreitada).



Sobre o que é A Voz Suprema do Blues?


Com direção de George C. Wolfe, o filme ganhou uma roupagem diferenciada por ser uma adaptação teatral. Os cenários, os cortes e o dinamismo de todo o filme lembram um pouco aquele sentimento de estar presente assistindo um filme “ao vivo”. Eu acho que, nesse ponto, o que mais me cativou no filme foi a simplicidade certeira em toda a construção de A Voz Suprema do Blues.


O filme não deixa espaço para nenhuma má interpretação. Ele é direto ao ponto ao tratar sua temática central: a quase exploração dos negros enquanto maiores cantores e intérpretes do Blues. É essa a história da cantora de blues Ma Reiney (Viola Davis) e é isso que o trompista Levee (Chadwick Boseman) tanto buscava vivenciar. Estar no controle por ter algo que os brancos queriam ter e, mais, saber usar esse controle.



No longa conhecemos mais a história desses dois personagens, além dos membros da banda da bem-sucedida cantora de blues. A história contada percorre os momentos da gravação de um disco da cantora realizado na cidade de Chicago em 1927. É nesse contexto fora da realidade dos personagens que somos apresentados à banda, aos produtores e investidores, à própria Ma e seus acompanhantes. Nesse ponto, as cenas de diálogos são muito presentes e extremamente importantes ao longo do filme.


Todo o passado que conhecemos dos personagens são contados por eles próprios em conversas. Não existem cenas de flashback que resgatem essas memórias, tudo fica por conta das atuações, da transmissão de sentimentos que a fala e interpretação de cada ator colocou nos personagens. E, nesse sentido, destacar os atores escalados é importantíssimo. Dos personagens principais aos coadjuvantes, não faltou qualidade nesse quesito e sinal disso é a indicação recebida por Viola e Chadwick nas principais categorias de atuação do Oscar.



Mas, claro, é importante aqui relembrar que A Voz Suprema do Blues é um filme “paradão” (e aqui coloco entre aspas porque isso não significa que o filme não tenha dinamismo). As cenas são extensas, pedem atenção às falas, demandam um cuidado maior ao perceber os espaços e aquilo que nem sempre está na camada superior da informação fornecida em cena.


O que esperar do filme no Oscar?


Com cinco indicações (Melhor Ator, Melhor Atriz, Melhor Figurino, Melhor Cabelo e Maquiagem e Melhor Design de Produção), A Voz Suprema do Blues promete estar presente na lista de vencedores da noite.


Além das altas expectativas para a vitória de Chadwick Boseman na categoria de Melhor Ator (depois de ganhar o Globo de Ouro as chances de vermos esse momento merecido acontecer são bem altas), eu consigo ver o filme levando também as categorias relacionadas a ambientação da história.



A caracterização dos personagens é algo que faz toda a diferença na história. O figurino e maquiagem ajudam a compor e a contar a história de forma brilhante. Nesses quesitos vale lembrar que filmes de época apresentam maior dificuldade nesse quesito e costumam ser mais premiados por esse motivo, ou seja, mais um ponto positivo para o longa.


Com certeza o longa promete trazer boas surpresas para a premiação e se tornar um filme essencial para discutir questões raciais e a luta por igualdade que ainda persiste até os dias atuais. Vale a pena assistir e apreciar as interpretações de grandes nomes da atuação e, claro, ver de perto o último trabalho deixado por Boseman para os seus fãs.

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