Crítica: “a bruxa não vai para a fogueira neste livro”, de Amanda Lovelace
O segundo livro da Trilogia Women Are Some Kind of Magic, “a bruxa não vai para a fogueira neste livro”, foi lançado em 2018. Nesta continuação, a autora sai um pouco das suas experiências pessoais e amplia o universo dos seus poemas ao falar sobre diversas questões vividas pelas mulheres, seus reconhecimentos e desconhecimentos e a necessidade do feminismo dos dias atuais.
Diferente do primeiro livro, “a princesa salva a si mesmo neste livro”, neste segundo há uma preocupação por parte da autora e editora em avisar o leitor sobre a sensibilidades dos conteúdos expostos nos poemas. Logo nas primeira páginas recebemos um “alerta inicial”.
Com isso em mente, já entramos nas páginas dos livros sabendo que seu conteúdo, assim como no primeiro da trilogia, não será de fácil digestão e que seu consumo deve ser feita de forma gradual.
Em entrevista à Marie Claire, Amanda Lovelace, a autora dos livros, descreveu o processo de escrita de seu segundo livro como mais descomplicado. Segundo a autora, “bruxa não é um livro de memórias como o anterior. Desta vez, trato das dificuldades que a sociedade impõe às mulheres”.
Desta forma, os poemas escritos nesses livros possuem uma complexidade que ultrapassam suas experiências pessoais, enquanto criança e adolescente, e passam a ser sobre a sua visão de mundo. As mulheres ganham, mais uma vez, o destaque nas páginas. Desta vez, entretanto, os poemas são mais diretos e trazem a tona diversos assuntos ainda ignorados atualmente.
DO JULGAMENTO ÀS CINZAS
“a bruxa”, assim como o primeiro livro da trilogia, também é dividido em quatro partes: o julgamento, a queima, a tempestade de fogo, as cinzas. Essa separação reflete nas poesias escritas. Cada parte vai tratar do assunto principal do livro, o feminismo e a luta das mulheres contra uma sociedade machista, de forma distinta.
Na primeira parte, “o julgamento”, Amanda nos mostra uma visão mais ampla sobre as mulheres. Há uma busca pela autora em revelar situações que aproximam as mulheres uma das outras pela repressão dos sentimentos, da expressão, do comando da sua própria vida. O que mais me tocou nesta parte foi ver situações que eu ou minhas amigas já passamos descritas por uma mulher nascida e criada em outro país. A estrutura patriarcal da sociedade fica muito mais em evidência quando lemos, ouvimos ou vemos acontecendo em lugares tão distintos.
Acho que este capítulo, mesmo que inicial e talvez não tão profundo como os outros, foi o que mais me tocou. Consegui sentir as metáforas, entender as situações e resgatar memórias que as fizessem tão reais na minha história que causou uma sensação de desconforto. Ao final desta parte tive que, inclusive, dar uma pausa na leitura do livro e acho que um dos grandes motivos para isso foi a escrita mais direta, mas isso vamos falar mais pra frente.
Os demais capítulos seguem a mesma estrutura do primeiro livros, sempre uma crescente, cada vez mais próximos ao fogo, a grande metáfora que rege este livro. Ao passar de cada capítulo, eu pude notar que os poemas eram mais diretos, sem tantas voltas, essa sim foi uma mudança em relação ao primeiro livro. Em “a princesa salva a si mesmo neste livro”, a escrita é mais branda, mesmo que ainda cause (muito) impacto nos leitores.
O QUE ESPERAR?
Acho que o sentimentos que mais pode surgir durante a leitura deste livro é reconhecimento. Eu me vi em vários poemas do livro, vi minhas amigas, minha mãe, minha irmã, todas aquelas que foram atravessadas por uma sociedade que ainda insiste um subjugar as mulheres.
Vale a leitura para um momento de reflexão e, quem sabe, de empoderamento através do conhecido. Afinal, depois da leitura dos dois primeiros livros da trilogia, eu tenho certeza que o não falta em nós mulheres é muito força.
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