top of page
Foto do escritorBeatriz Cardoso

Crítica: Terror de "Arquivo 81" deixa a desejar, mas tem pontos fortes

Arquivo 81 é uma série de terror que estreou na Netflix na última sexta-feira (14). A primeira temporada traz oito episódios e um final aberto que pede por uma segunda temporada (não confirmada até agora!). A trama se passa em volta dos mistérios do prédio Visser, trazidos à tona com a chegada de uma nova moradora. Confira na crítica a seguir se Arquivo 81 é bom.

Arquivo 81 acompanha o trabalho de Dan Turner (Mamoudou Athie), um restaurador de fitas que é contratado para recuperar as gravações do prédio Visser. A construção foi acabada por um incêndio, nos anos 1990, do qual ninguém saiu vivo. Ao revelar as filmagens, ele assiste ao trabalho de doutorado de Melody Pendras (Dina Shihabi), que registrou toda a sua vivência no Visser.


Acontece que o lugar não é tão inofensivo quanto aparenta ser (e ele nem parece inofensivo, na verdade), e os moradores têm hábitos estranhos, como fazer reuniões na sala comum do prédio no meio da madrugada para cantar cânticos sinistros. A partir daí, Dan busca descobrir o que realmente aconteceu no prédio, e qual o paradeiro de Melody nos dias atuais.


Quanto ao desenvolvimento da história, Arquivo 81 é uma completa bagunça. Na verdade, é surpreendente que o desenrolar do fio da meada seja tão caótico, considerando que a série é lenta. São muitos diálogos (vários repetindo informações já mencionadas) e o suspense se estende o máximo possível — não espere nem mesmo uma migalha de explicação de Arquivo 81 nos primeiros quatro episódios, pelo menos.

Divulgação/Netflix

O telespectador é metralhado com mil e uma possíveis justificativas para os mistérios do prédio Visser: ocultismo? Fantasmas? Doenças psiquiátricas? Drogas? O enredo traz muitos elementos convenientes (e olha que terror por si só já tem muita conveniência) que fazem a série até parecer uma espécie de sátira do gênero. O que falar do zelador do prédio que aparecia sempre que o plot precisava de um suspense? E as interrupções de gravação sempre que uma grande revelação estava prestes a ser feita? Esse tipo de artifício narrativo terminou com a minha paciência depois do terceiro episódio.


Me venderam Arquivo 81 como uma série de terror, e foi justamente por isso que decidi assisti-la — afinal, séries do tipo são razoavelmente raras, né? Só que a trama é movimentada muito mais por suspense e, em momentos muito pontuais, por horror. Eu avistei até uma manchete que mencionava ficção científica — o que, inicialmente, achei bem aleatório, mas fez muito mais sentido lá para os últimos episódios, que mencionam as diferentes dimensões.


O problema dessa desorganização de gêneros é que Arquivo 81 não parece focar num objetivo certo e segui-lo. E a maior questão disso é: a série promete muito e não entrega nada. Realmente, foi uma pena ver todo o seu potencial ser desperdiçado numas escolhas de plot bem ???? (Pois é, não tenho uma palavra apropriada para usar aqui.) O desfecho é básico demais e muito sem graça. No final das contas é tudo culpa de uma seita ocultista aleatória, e a série nem dá uma justificativa plausível para tal vínculo religioso — o que leva alguém a glorificar uma criatura demoníaca/endeusada de uma cultura avulsa?

Divulgação/Netflix

No momento de contextualização do culto, nós vemos uma cena de aborto espontâneo (algo chocante, compreensível para criar uma crença tão forte), mas tudo passa rápido demais na reta final sem a carga emocional poderosa que esse momento do enredo demandava. Isso não faz muito sentido porque a série é bastante lenta em alguns momentos e bem que poderia manter esse ritmo demorado (que fez tanta questão de estabelecer logo no começo) nas cenas necessárias.


Os personagens também não têm muita profundidade. Principalmente o par protagonista — Dan e Melody — tiveram construções superficiais e eram movidos puramente por curiosidade (com um fundo de afeto, claro) e algum trauma de infância batido (ser abandonada pela mãe; ver os pais morrerem num incêndio). O roteiro só faz o necessário para determinar a casca dos personagens e deixar a história rolar e, de fato, o que me fez ver Arquivo 81 até o final foi o enredo (ainda que ele seja pacas errático).


Uma coisa devo elogiar em Arquivo 81: as cenas finais dos episódios são ótimas. Todas trazem cliffhangers bem construídos para manter o interesse da pessoa e fazê-la assistir à próxima parte da série. E deixo aqui, também, uma menção honrosa à atriz que faz a Jess. Ariana Neal foi fantástica no seu papel, com uma atuação bem delicada que não a fez parecer nenhuma adolescente estereotipada.


Segunda temporada? O final de Arquivo 81 explicado


[É óbvio que a partir daqui tem spoilers, dã.]


Quando Dan atravessa as dimensões em busca de Melody, ele vai parar no “outro mundo” tão mencionado durante a série. O problema é que, quando ele encontra a mulher, Samuel surge do nada (olha que conveniência de enredo, pessoal!) e a leva para o tempo presente, deixando Dan para trás.


Na cena seguinte, ele acorda num hospital dias após o incêndio do prédio Visser, então tudo indica que Dan também saiu do outro plano de existência (dominado por Kaelego), só que ele parou no momento errado da História. A roteirista Rebecca Sonnenshine disse, em entrevista à Variety, que há diferentes portas para transitar pelos mundos e, às vezes, as pessoas podem pegar a saída errada.


A segunda temporada de Arquivo 81 não foi confirmada ainda pela Netflix, e se tiver… Eu não sei se assistiria. Talvez eu veria motivada puramente por curiosidade, mas a verdade é que eu duvido muito que eles mantenham o fôlego dos mistérios caso alonguem a história. A primeira temporada foi bem mediana (com um final decepcionante, até), então uma segunda não prometeria muita coisa.



____

Quer saber nossas impressões sobre diversas obras das mulheres na cultura? Cinema, música, literatura, teatro e muito mais. Tudo isso, duas vezes por semana, na categoria “Crítica”.


Comentarios


bottom of page