Crítica de Formula of Love: TWICE retorna com Scientist e ótimas B-sides
O TWICE está de volta com o seu terceiro álbum coreano. Formula of Love: O+T=<3 é um título bem grande para um disco, mas ele tem um significado bem fofo por trás: as iniciais O e T se referem aos onces (o fandom do grupo) e ao TWICE, mostrando que a combinação deles é amor na certa. Outra interpretação do nome considera O como one (um), T como two (dois) e o 3 do coração como indicação de que esse é o terceiro CD do girl group da JYP.
O Formula of Love traz 16 faixas, sendo a última um remix da faixa-título Scientist. Já vou avisando que vou desconsiderar a existência desse remix durante toda a crítica porque eu não curto remixes em geral (mas dizem as más línguas que ele é melhor do que a faixa original…).
Scientist foi produzida pela Anne-Marie e por outro bando de gente aí, e é descrita como uma mistura de deep house com dance-pop e sintetizadores dos anos 1980. O que isso quer dizer? Eu não faço a mínima ideia. O que eu sei é que eu gostei de Scientist — não de primeira, mas ela certamente foi crescendo dentro de mim e agora eu até canto o refrão. Os onces em geral ficaram muito decepcionados com a title (e teve até gente comparando com Alcohol-Free, o que não faz nenhum sentido), mas eu acho que ela é bastante coerente na carreira do TWICE e para a nova fase delas.
Eu gostei bastante do clipe, mas ignoro algumas cenas que pareceram desconexas porque tem coisa demais acontecendo ao mesmo tempo (e os efeitos questionáveis da JYP continuam aparecendo aqui!!). O figurino está lindo, e está tudo bem alinhado com o amadurecimento delas, mesmo que elas tenham um conceito mais “inocente” dessa vez, questionando o amor até descobrir que não tem fórmula nem nada para resolver isso, é só ir de cabeça na paixão.
Moonlight entrega o que o TWICE e a JYP inteira sabe fazer com maestria: disco. É uma boa faixa para proceder a título do álbum, porque ela estabelece bem qual é o clima do álbum, com bastante pop e sintetizadores, e anuncia a temática de amor que predomina no CD inteiro. A música é toda em inglês, o que serve de prenúncio também às outras faixas sem um coreano sequer presentes no Formula of Love. Moonlight fala sobre o comecinho de se apaixonar de uma forma mais madura do que o TWICE já fez, e o refrão complementa bem a experiência.
Icon mete o pé na porta logo em seguida e me lembra algo que o ITZY cantaria — e não digo isso como ofensa. Icon tem uma letra (toda em inglês!) cheia de autoestima e quebrando o tabu bem estilo do outro girl group da empresa, mas traz menos bateção de panela e sim uma farofa segura com um trapzinho (meus ouvidos agradecem).
A guitarra também traz uma vibe interessante de reggae, e adorei os versos “Damn, I got it, I’m iconic” no refrão. Eu encaro essa faixa como uma irmã de Go Hard, do Eyes Wide Open (2020).
Cruel foi escrita por Dahyun e a transição de Icon para essa faixa é um pouco de um baque porque o instrumental dela é mais minimalista. Cruel se apoia em violinos e sintetizadores, e traz um anti-drop logo no refrão, mas ele cresce de uma forma bem interessante à medida que são adicionados mais elementos à batida. Essa “economia” da produção é alinhada com a letra, que aborda basicamente como é cruel não ficar tão afetado por um término.
Real You segue o clima de Cruel só que mais puxado para o disco, com muitas reflexões na letra escrita por Jihyo. F.I.L.A. (Fall in Love Again) também fica na mesma vibe retrô. Não tenho muito a comentar sobre elas, mas não são exatamente skips do álbum. O conjunto da obra do Formula of Love em si é bastante agradável, e eu terminei ouvindo ele completo no repeat sem problemas.
Last Waltz é até agora a minha favorita do CD (mas isso deve mudar muito em breve). É impossível não prestar atenção nos arranjos dessa faixa porque são vários ritmos interligados de forma coesa e harmônica. O pré-refrão dá uma desacelerada muito interessante, e é seguido por um som de vidro se quebrando (?) que traduz sonoramente de um jeito bem interessante o término do namoro mencionado pela letra de Last Waltz.
Espresso traz uma metáfora legal sobre o TWICE se comparar com o café, no sentido de deixar as pessoas animadas e fazer o coração bater mais rápido, apesar do gosto amargo. O drip drop do refrão é a minha parte favorita, mas ela seguiu a linha de Real You e F.I.L.A. comigo: gostei, não é um skis, mas pessoalmente não chamou muito a minha atenção.
Rewind corta seco Espresso com uma balada bem daquelas quadradas, que sempre se espera num álbum de grupo de k-pop com vocais decentes. O instrumental é bem comedido com apenas algumas harmonias ao fundo, e ambienta bem a ideia de abordar o término de um relacionamento (sim, o TWICE tá falando muito sobre término aqui. Vocês querem me contar alguma coisa, garotas?). Minha reclamação aqui é que Rewind corta muito o clima de Espresso (que é literalmente uma música sobre animar as pessoas!), mas vou deixar minhas reclamações sobre a ordem da tracklist para depois.
Cactus é a faixa mais carregada de emoção do Formula of Love, a meu ver. O refrão tem um “save me, save me” bem emotivo que me abala principalmente quando uma guitarra sobe do nada ao fundo dos vocais da Jihyo e da Nayeon. A música é calma e no modelo de balada que Rewind segue, só que a produção puxou mais para o rock, então a batida terminou bem mais cativante.
O pós-refrão, aliás, é fantástico porque a guitarra some e sobra apenas um piano melancólico no instrumental. Esse contraste entre os versos fica muito bonito, então entre Rewind e Cactus, eu prefiro a última com certeza. Fica aqui uma curiosidade: a inspiração de Jihyo para compor a letra veio da vez que ela deixou o cacto de estimação dela, Anggi, morrer porque esqueceu de regá-lo.
Agora sim vou reclamar da ordem das faixas. Pessoalmente, eu acharia melhor se a tracklist do Formula of Love fosse reorganizada para que as duas baladas ficassem depois das units e antes de Candy, para criar aquela espiral emotiva das músicas lentas até chegar na faixa dedicada aos onces e fechar o álbum com um clima bem comovido.
Eu entendo que eles seguiram uma ordem temática em vez de sonora (músicas OT9 > músicas das units > música para os fãs), mas acho que deixar as baladas mais para o final seria melhor para manter o momentum das faixas mais animadas, que entregam o melhor do TWICE. Ah, e The Feels lá no final fica muito esquecida no churrasco, tadinha.
Push & Pull inaugura a seção de units do TWICE. Jihyo, Sana e Dahyun cantam a faixa com um quê de retrô e bastante animada, e sou suspeita de falar, mas achei a Jihyo a que mais se destacou na música com aquele vocal mais grave dela. Em entrevistas, Sana disse que treinou bastante já que teria mais versos para cantar, então vemos aqui que as units são interessantes também para conferir o vocal de quem costuma brilhar menos nas outras faixas.
A sequência das quatro músicas anteriores é muito curiosa, na verdade, porque é como se Espresso te animasse, aí Rewind vem e mete uma faca em você, Cactus te coloca dentro de um caixão e Push & Pull toca para te ressuscitar para fora da cova.
Hello é cantada por Nayeon, Momo e Chaeyoung e é a primeira faixa a provar que separar o TWICE em units foi uma boa escolha para experimentar estilos novos. A faixa tende mais ao rap do que ao pop, algo raro nas músicas cantadas pelo grupo completo, e fala sobre as performances do TWICE e os aplausos dos fãs (é por isso que elas repetem a palavra “fanfare”, tipo, mil vezes nessa faixa, né?).
A Nayeon ficou meio avulsa nessa combinação (duas rappers com a vocal do grupo, sério?) e honestamente acho que ela não adiciona muito à faixa, mas a escolha é compreensível. A Nayeon tem um vocal mais versátil do que a Jihyo e combina com quase qualquer gênero, e elas são as únicas do TWICE com gogó de verdade, então sobrou para ela embarcar nesse trap-rap-pop-sei-lá-o-quê. O veredito final para Hello é: ponte interessante, e uma música legal para escutar na academia.
1, 3, 2 é um forró, e digo apenas isso. Sério. Ok, no álbum a faixa da Jeongyeon, Mina e Tzuyu é listada como latin pop, mas todo mundo sabe que esse é o código de gringo para “me inspirei em música latina, mas não conheço os gêneros deles direito então vamos só falar que é latino”. Por exemplo, eu pessoalmente não me lembro do TWICE falar com todas as letras que Alcohol-Free era um bossa nova, mas disseram várias vezes que tinha “uma vibe latina”, então vou manter esse argumento.
Candy é uma música em homenagem aos fãs, e ela é bastante doce (ba dum tss). Achei muito legal ela ser toda em inglês, porque mostra essa iniciativa do TWICE de abraçar os fãs internacionais. Claro que é tudo estratégia de mercado (e, bom, a fonte delas na Coreia está secando aos poucos), mas eu tenho a impressão que não foi algo precipitado. A pronúncia delas está bem melhor do que nas versões em inglês de I Can’t Stop Me ou Cry For Me, por exemplo, e o primeiro single em inglês dela foi muito estratégico. Mas eu falo mais disso logo aí embaixo.
The Feels foi o primeiro single do Formula of Love. Completamente em inglês, ele rendeu ao TWICE o debut delas na Billboard Hot 100, e traz um pop muito animado e bastante “seguro”, considerando que o comeback anterior delas tinha sido o divisor de opiniões Taste of Love (2021). Eu me apaixonei por essa faixa assim que a ouvi, e o “Boy, I, boy, I, boy, I know” ficou grudado na cabeça logo de primeira. Comparando com Scientist, eu acredito que ambas têm igual potencial de sucesso e seguem a mesma receita (os versos em inglês do refrão de Scientist são ótimos, vai), mas ainda assim muita gente do próprio fandom terminou massacrando Scientist, então...
Vale a pena estudar a fórmula do amor?
O Formula of Love é um ótimo sucessor para o Eyes Wide Open, e não fica muito atrás no quesito qualidade de tracklist e produção. A progressão do amadurecimento do concept do TWICE segue a todo vapor e bastante coerente, e ambos os álbuns são separados por um comeback coreano diferente e muito bom com Taste of Love (cuja escolha de title eu critiquei horrores aqui no Telas, e depois me arrependi porque o bossa nova de Alcohol-Free é perfeito).
Provando que eu não aprendo com meus erros, vou fazer uma ressalva ao CD: achei Scientist uma title fraca. A música em si é boa e, de todas as faixas do álbum, de fato era a que tinha mais cara de title. Porém, acho que The Feels termina brilhando mais no tracklist com o seu bubblegum pop. Mas é aquela coisa: o TWICE é conhecido por se arriscar (vide o bossa nova de Alcohol-Free) e The Feels é a zona de conforto total delas. Prefiro que a JYP continue optando por testes de novas sonoridades com elas do que recorrer sempre ao seguro e agradável.
Onces, o TWICE teve uma trajetória muito linda de sucesso e são praticamente as sucessoras do Girls' Generation como girl group da nação lá na Coreia. Era claro que uma hora aqueles hits todos iam acabar e elas seriam ultrapassadas por grupos novos. Se elas vão vender menos e hitar menos de qualquer forma, por que não fazer isso se arriscando? Eu acho que os fãs só têm a ganhar com isso.
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